🔵 Guerra dos sexos
Apesar de soar estranho, ir a um boliche foi aceito, Para dois casais, era difícil argumentar que, em São Paulo, faltou opção melhor; porém, o esporte/entretenimento, mesmo não sendo convencional era uma mania que seria praticado com chope e fritas e era diversão garantida. E o melhor: atento às armadilhas, eu poderia trafegar na minha zona de conforto.
Aquela derrota na sinuca, eu estava certo disso, foi um acidente, portanto, tinha muita certeza, não a levaria à pista de boliche sem a absoluta segurança da vitória. Mesmo no Shopping Center Norte, a experiência adquirida na avenida Guilherme Cotching era suficiente para escapar das “armadilhas” mesmo lutando contra os efeitos etílicos.
O esporte obscuro era uma oportunidade de eu demonstrar alguma superioridade, fingindo dominar o jogo. Mas eu não sabia que o chope iria me prejudicar. Confesso que cada “strike” realizado pela minha namorada doía no coração. Meu amigo logo viu que aquele teatro farsesco naufragaria, então não participou da “confraria masculina”.
O final da noite foi bem diferente do que eu pude imaginar. Melancólico, não sei se foi meu orgulho masculino ferido ou machismo na mais selvagem manifestação, mas levar uma surra no boliche se revelou uma péssima experiência corriqueira, porque essa desmoralização já me ocorreu no jogo de bilhar. A cada pino que ela derrubava, diminuía minha autoestima; quando o mecanismo recolha os restos dos “strikes”, o restante da minha confiança escorria pelo ralo.
A humilhação só não foi completa porque as mulheres fazem questão de demonstrar sua superioridade com uma modalidade de dó. Lógico que isso é muito pior e parece proposital, porque te deixa lá embaixo.
O requinte de crueldade doeu na alma, mas, admito, se eu fosse o ganhador, jamais faria o mesmo. Se tivesse sido o grande vencedor da noite, provavelmente eu passaria o restante da vida lembrando dos “strikes”. Porém, como nada saiu conforme o esperado, o evento contou com todo o meu empenho para cair no esquecimento.
Mesmo com minha tentativa vil de alterar este acontecimento histórico, nada se compara ao silêncio ensurdecedor e aquele sorrisinho lembrando do triunfo esportivo da minha namorada. Aquela forma de desprezo tirou toda a minha moral.
Cansado de levar uma surra feminina e a ponto de ter que ouvir um discurso feminista (que hoje seria chamado de empoderamento), eu poderia fingir que facilitei a disputa. Entretanto, era tarde demais, portanto, tive que suportar aquele vexame.