Prenúncio
A chuva estava anunciada na oratória impecável daquela ventania.
Que ventania! As janelas, outrora abertas, fecharam-se sozinhas, num bater violento contra elas mesmas. Mas o vento, ah o vento… conseguia ultrapassar suas frestas, e fazia isso de forma irônica: assobiando.
A árvore, que se via à frente da janela agora fechada, despelava-se compulsoriamente. E o pássaro, sobre seus galhos descobertos, olhava de um lado para o outro, sem saber que os lados também o olhavam, pois no prenúncio de uma tempestade, todos ficam alertas.
Folhas perambulavam para cima e para baixo, como se não houvesse gravidade. As nuvens chocavam-se e o estrondo assustava. Os animais corriam em busca de abrigo, afinal o momento instigava movimento. Menos para alguém, que se mantinha ali, intacto: o varal de roupas. Por mais que balançasse, sabemos: ele não sairia do lugar.
Dizem que objetos inanimados nada sentem, mas eu sinto por eles. Sinto tanto… Quando vejo um varal de roupas vazio, sinto solidão. Quando o vejo preenchido, sinto o esforço de carregar sozinho quilos de roupa. Quando o vejo na chuva, sinto o abandono. Quando o vejo no sol, sinto a vida que existe na casa onde ele reside. Eu sinto todas as coisas que deixam de ser sentidas quando acontecem no cotidiano de um varal de roupas.
Durante a ventania, estranhamente eu senti alegria. Olhando-o ali a balançar desmedidamente, pensei: talvez seja o prenúncio de que ele esteja começando a sentir os sentimentos que, outrora, eram só meus.