Apartheid Social: O Brasil entre Privilegiados e Marginalizados

No Brasil, os aparelhos estatais, torpes escudos dos interesses dos ricos, ecoam uma secular sinfonia de injustiças sociais que castigam diariamente os comedores de marmitas. Uma realidade que gera uma nação dividida entre afortunados e miseráveis.

Essa divisão não é acidental, obra do acaso ou divina, mas uma manifestação das dinâmicas de poder que definem o capitalismo e sua intrínseca luta de classes. O estado, o qual sempre se coloca como cuidador de todos os extratos sociais em suas legislações, não é um árbitro imparcial na arena social, mas um instrumento nas mãos da burguesia, concebido para perpetuar sua dominação e salvaguardar seus interesses das formas mais injustas possíveis.

O apartheid brasileiro é marcado por uma segregação de classes profundamente enraizada, oriundo dos tempos da colonização portuguesa e do sistema de escravidão. Os ricos, protegidos por uma gama de privilégios (inclusive jurídicos), navegam por um mar de facilidades. Eles habitam um país onde o dinheiro compra não apenas luxo, mas também liberdade e impunidade. O tratamento diferenciado é gritante, como evidenciado pelo acolhimento caloroso dos jovens de classe média em shoppings, relegando os jovens das periferias aos seus "rolezinhos", vistos como incômodos a serem contidos.

Os pobres enfrentam um cotidiano marcado pela violência e exclusão. A polícia, cuja função seria teoricamente a de proteger os cidadãos, transforma-se no braço armado de uma injustiça estrutural, invadindo lares e exterminando vidas nas favelas, enquanto simultaneamente oferece um tratamento leniente aos que se encontram sob a proteção do capital. Desde os tempos das senzalas aos dias atuais, a carne negra serve para ser abatida em açoites ou cacetetes. E a polícia é o novo capitão do mato a chicotear os humildes. Os diversos casos como de Amarildo estão aí para serem provas desse cotidiano brutal.

Casos emblemáticos, como a liberação de Daniel Alves, jogador de futebol condenado por estupro mediante pagamento de fiança, ou o escandaloso episódio em que o dono de um Porsche atropela um trabalhador e é liberado sem sequer passar pelo teste do bafômetro, ilustram a máxima de que "a justiça é como uma serpente, só morde os pés descalços".

A liberdade tem preço, e este é medido pelo tamanho da conta bancária. A justiça, supostamente cega, enxerga muito bem as diferenças sociais, ajustando suas balanças conforme o peso do dinheiro que lhe é apresentado. A justiça é burguesa e tem uma classe social bem definida a qual beneficia.

A luta de classes se manifesta não apenas no campo econômico, mas nas instituições que deveriam servir a todos. O tratamento diferenciado entre ricos e pobres é um reflexo dessa luta, onde o estado, longe de ser um mediador neutro, toma partido, defendendo os interesses da classe dominante.

Em meio a este cenário, nossa sociedade revela as fraturas de uma ordem que privilegia o capital em detrimento da equidade humana. A aberração social em que vivemos, marcada pela inversão de valores, onde a empatia e a justiça são substituídas pelo culto ao lucro e pelo favorecimento dos já privilegiados. A cidadania, longe de ser vivenciada como um direito inerente a todos os brasileiros (algo garantido na dita Constituição cidadã), se configura como uma arena de exclusão, onde apenas uma minoria é reconhecida com plenitude de direitos.

A massa, bestializada, é despojada de sua humanidade, vista e tratada como seres inferiores, incapazes de participar ativamente do processo político e social. É porrada, tiro e cacetete para tratar das demandas de negros, favelados e assalariados. A desigualdade se perpetua no reconhecimento e exercício dos direitos civis, políticos e sociais, consolidando uma cidadania de classes, onde os direitos de participação e representação são reservados a poucos, perpetuando assim a exclusão e a marginalização da maioria para os cidadãos que, na prática, são de segunda classe.

02.04.2024

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 02/04/2024
Reeditado em 02/04/2024
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