A ESTRELA SOLITÁRIA DA CIDADE

Um passeio a tempo acalentado, agora se aproxima, o grupo em parte já é conhecido, o que convenhamos, reduz a ansiedade por um lado, mas cria uma dúvida pelo outro.

Essa turma que conheço por duas caminhadas, que se estenderam por algumas horas, agora, vivenciará uma experiência que incorpora três pernoites em hotel, e passeios diários, que provavelmente fecharão o dia com chave de ouro em alguma jornada etílica.

Foi só depois da aposentadoria, que definitivamente passamos (n eu e minha esposa) a desfrutar desses convívios com grupos distintos. O tempo do trabalho, apesar de carregar o peso profissional, com todas suas especificidades, e que em muitas vezes não fazem bem a saúde, também incorpora os para lá de discutidos ossos do ofício, que em muitas ocasiões gerou noites mal dormidas e situações que sequer valem a pena lembrar.

Por outro lado, nesse ambiente de grande diversificação, que necessariamente você permanecia por oito horas ou mais, abria para quem se interessava um leque de possíveis amizades, que serviam para amenizar a aridez do cotidiano, às vezes até monótona que uma repartição pública pode gerar entre servidores.

Esse tempo de demandas às vezes esdrúxulas, função de superiores que na realidade se encontravam na hora e lugar errado, e que poderiam até comprometer sua carreira. Felizmente saí ileso desses acidentes de percurso, e ainda consegui ao longo dos anos construir estratégias, que praticamente me blindavam dessas bobeiras do dia a dia.

Planejamento não faltará para esse passeio, com carga de aventura, pois o João que coordena o grupo, fez há alguns meses atrás uma espécie de test drive do que vamos agora desfrutar.

O hotel escolhido para nosso deleite recebeu desmesurados elogios do coordenador do grupo, a gastronomia, que, aliás, sempre faz parte do cardápio de nossas caminhadas e trilhas, pelo jeito foi escolhida com esmero.

Agora, é cruzar os dedos esperar que São Pedro colabore, pois desta vez, vamos não apenas precisar de dias abertos, mas também de noites sem nuvens ou nevoeiros, para assim ter o prazer de apreciar o que cidade tem de melhor a nos oferecer, um céu de muitas estrelas, que os mais entusiastas comparam ao que Cabral e sua frota vislumbraram ao desembarcar na inicialmente batizada Ilha de Vera Cruz.

Imagino que em Madalena já deva abrigar algum grupo desses de ufologia, pois a alcunha de cidade das estrelas se deve a estranha possibilidade de se encontrar OVNIs, sem muito esforço visual, ou mesmo longa permanência de observação celeste.

Conta a lenda, que logo que se entra no clima da cidade, os palavrões parecem fazer um esforço adicional de sair da boca, independente das características da pessoa, pois até mesmo as mais recatadas passam a soltar o verbo. Fico imaginando o que pode acontecer com aqueles naturalmente desbocados. Esse parece ser um legado da Derci Gonçalves, que mesmo sendo sua estrela solitária, conseguiu botar sua cidade natal no mapa, antes mesmo de alguém descobrir que essa pequena cidade poderia literalmente virar para cima a cabeça de seus futuros turistas.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 01/04/2024
Código do texto: T8032875
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