Oh Pai, não permitas que eu me abandone!
Chega um momento em que se percebe que a vida tem mais a cobrar do que a oferecer. A alegria fácil de alguns copos de cerveja já não está a disposição, o corpo está mais rígido para a dança. Ah como é duro o esforço para esquecer que há pessoas ao meu lado e é isso que tira minha pouca liberdade. Ainda me lembro de quando era pequeno e fui ofendido “homem não faz isso” então aquela criança está sempre lá no fundo a me lembrar disso. Seja isso, faço isso, isso não pode. Eu ainda resisto, lembro-me de levantar meus ombros para demonstrar alguma segurança que não existe, como se eu estivesse me desenterrando daqueles corpos. As mãos ainda não começaram a me incomodar, se eu tocasse um dedo contra outro teria um outro conforto?
Depender da opinião alheia é sinal de insegurança, ah se eu soubesse disso antes, apenas seria mais uma constatação do obvio e eu não me molestaria diante da certeza de que sou cheio de inseguranças. Mas quem irá me salvar senão eu mesmo! Oh Pai, não permitas que eu me abandone! É o meu corpo que está crucificado pela minha mente e eu sei que não há salvação para mim.
Talvez se houvesse menos luz... Ninguém não está nem aí para você. Eu ergo a cabeça e fecho os olhos. Dizem também que é bonito alguém dançar com olhos fechados. Eu sempre o fiz, mas agora pareço forçado. As poucas felicidades que tenho também me aprisionam, uma vez que não posso revelá-las sob o risco de que elas percam a sua eficácia, pelo menos é essa narrativa que me mantem com alguma fé na vida. Talvez essas falas certeiras sejam só mais um clichê.
Calma! Talvez alguém me note e haja uma troca de olhar e a sensação de ser desejado seja mais intensa do que a da possa daquilo que se deseja. Se houver sucesso na empreita vai acabar no encontro de dois corpos, com alguma sorte será bom, com sorte por um tempo esquecerei de mim nos braços de outro. E é só isso que eu posso oferecer. Tão intenso que logo encontro meu fim. Não consigo passar disso, qualquer contato mais íntimo me intimida, pois na vida eu sei lidar melhor com a dor do que com as alegrias.
Foi pensando assim que me veio a ideia de tatuar “Ill turn your sea to desert” algo como eu vou transformar seu mar em um deserto, pois no fim eu só acaba ferindo aqueles que amo. Ficaria ali no braço bem visível como um sinal de perigo.
É só amando que você será amado, disse-me a mulher que me leu pelo toque de sua mão. Não se afaste das pessoas, é preciso que você ame para ser amado! Ainda há algum amor por mim, por isso ainda tento dançar...
Oh Pai, não permitas que eu me abandone!