Viver e sentir os momentos como únicos

A semana era santa, e eu tinha todos os motivos para mergulhar nos sentimentos espirituais, mas algo me chamou a viver a noite. Não existia em mim nada que pudesse mudar isso. Nos últimos anos, a noite tem me salvado de muitas tristezas e dores, apesar de me afastar de descansos e de me poupar dinheiro. Mas a luta semanal de sempre, pouco dinheiro no bolso e muitas coisas que estão estagnadas, me deixaram propícios a desopilar. Primeiro uma cliente me chamou para sair para um clube de forró, a qual eu a tinha indicado. Eu tentei de todas as maneiras me esquivar, mas ela insistiu e fui. Todas as quintas-feiras, o Motor Libre realiza o seu, arrasta pé, com entrada grátis, mas naquela véspera de feriado, me assustei com os 35 reais que tive de pagar logo na entrada. As duas senhoras estavam lá, sentadas, com vontade de dançar. Eu estava com uma long neck na mão e cercado de mulheres por todos os lados. A turista, veio em minha direção e me disse: ‘Você vai dançar’. Eu fiquei buscando justificativas de que não sabia, mas ela não me deixou desistir. E dançamos. Eu estava muito duro e não saiu como ela esperava. Eu ainda chamei um rapaz para dançar com ela. Mas vi que as paulistanas, não estavam gostando do ambiente fechado e bastante apertado. Quando fui comprar outra cerveja, tinha um homem falando com elas e dizendo que eu não as deixasse ir, que eu fosse mais corajoso e as buscasse para dançar. Mas elas se foram. E eu fiquei ali na fila da cerveja, pensando: ‘Como será, eu sozinho nesta casa de show, sem amigos’. Voltei para mesa onde tinham outras mulheres e fiquei ali com a garrafa de álcool na mão e sem saber como me comportar. Aí uma senhora insistiu para eu dançar com a irmã dela. Eu disse que não. E a casa ficando mais cheia e as pessoas se mexendo a dois, para lá e para cá. Uma mulher estava sentada, junto a mesa e eu puxei assunto com ela e do nada, a chamei para dançar. Fiquei sem saber por que fiz aquilo. Quando peguei na mão dela, com a minha mão esquerda e com mão direita, peguei a cintura da moça, fechei os olhos e deixei a música me conduzir. Senti que estava acertando os passos e estava me requebrando. Foi extasiante, mágico. A música acabou e voltei para próximo à mesa. As outras mulheres me elogiaram e disseram que eu sabia dançar. Eu disse a mim mesmo: ‘Quer saber, vou dançar’. E assim foi, uma jovem, ou senhora, não importava a idade, uma atrás da outra eu fui pegando. Tinha uma loira rindo para mim, veio com a long neck para brindar com a minha long neck e do nada, um cara tentou atravessar o brinde. Mas eu não me fiz de rogado e ultrapassei ele e dancei com a loirinha. Trocamos ideia e tudo. Em outro momento chamei outra para dançar e ela falou que a amiga dela, estava a fim de um par. E lá fui eu. Fechando os olhos e cantando as músicas dos forrós românticos, abraçadinho. Para quem não ia dançar, fui até a casa fechar. No fim ainda arrumei uma paquera. Isso na quinta-feira. Na sexta também sai e no sábado. Foi tudo que planejei de descansar e estudar por água abaixo. Mas as coisas planejadas às vezes não dão tão certo como as espontâneas. Fiquei alegre, mas de ressaca e liso é verdade e um pouco longe da minha conexão semanal com o divino, mas sei que Deus ele nos fez para sermos felizes e podermos em alguns momentos do mês, ou da vida se divertir um pouco, sem fazer mal nenhum a ninguém. A vida é feita de escolhas e momentos. Tem coisa que podemos mudar e outras não. Mas a lição do forró me deixou foi especial. A vida nos coloca um obstáculo e temos duas opções. Fugir ou enfrentar. Eu não sabia dançar, estava com o medo do julgamento das outras pessoas. Mas mergulhei no desconhecido e confiei nele. Fui ao ápice da descoberta, de que a nossa mente que nos limita e podemos muitas coisas a mais do que imaginamos.

Carlos Emanuel
Enviado por Carlos Emanuel em 01/04/2024
Reeditado em 01/04/2024
Código do texto: T8032511
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