Reinações de Choquinho, o meu cachorro!
“Este macaco é meu! É meu o macaquinho!”
Enquanto eu repetia que era o dono do macaco de pelúcia, o Choco o mordia mais firme, demonstrando sua disposição em iniciar mais uma de suas infindas brincadeiras, em que imensos dentes brancos são postos a mostra, além dos limites do focinho, são uns dentes bonitos, mas estranhamente espaçados que torna sui generis sua mordedura canina.
Outro dia querendo agradar-lhe, joguei-lhe um pedaço de salmão, imaginando que se regalaria com uma carne tenra, saborosa, encharcada em molho Shoyu e exalando partículas da propagandeada ômega3 – mas que nada! O bicho começou a mover os dentões separados e arremessar ao alto tal qual seus incontáveis brinquedinhos.
Gosto de ameaça-lo! Acho uma graça a carinha de trouxa que ele faz. Desconfio que saiba que minhas ameaças não passam de farsas, reinações às quais fazemos quando amamos um animal de estimação.
Já comprei dezenas de macaquinhos de pelúcia exatamente como o que está preso em seus dentes. Eles têm umas buzininhas que emitem um som alucinante para cachorros!
Quando se revolta ao ponto de não mais querer brincar com o som das buzinas (dispostas em padrão no braço esquerdo, baixo ventre e perna esquerda dos macacos) ele passa à próxima etapa: o desmembramento de seu corpo e a consequente ingestão da espuma que o preenche. Para alcançar tal avanço, não encontra obstáculos, então, eu finjo que estou bravo, lhe repreendo com voz grossa: “Olha só o que você fez com o seu macaquinho!” repito por três, quatro vezes. Ele me olha de soslaio, aliviando o peso da mordida, também aprendeu a fingir estar assustado. Deixa cair sua linguona pelo canto do focinho, seu rabinho se move alegremente, denunciando já saber que a cena não passa de mais um chiste de seu dono.
De repente, enquanto estou ralhando com ele, com voz austera, mudo o tom, e em falsete, emulando o Bob Esponja, repito seguidamente, como uma metralhadora: “Olha o que você fez com seu macaquinhoooo!”
Neste ponto, a coisa toda atinge o ápice da zoeira e imediatamente ele retoma de minha mão o macaquinho estropiado e parte girando o focinho, rolando, rosnando e mostrando seus dentões brancos e amplamente espaçados...sem um milímetro de respeito por mim!