NOSSO MEU EU DEMÔNIO

Conferimos com certa frequência, as ataduras dos nós na agora endurecida amordaça de couro cru, que mantem fechada a enorme bocarra do monstro... de forma a conter lá dentro, tanto a crocodiliana dentição do bicho, quanto a sua bifurcada língua. Também, verifica-se ocasionalmente, a oxidação da algema que detêm a interdependência de seus olhos camaleônicos...

Uma liga submetida a sete forjas, deu origem ao poderoso metal, cujas espeças correntes agora prendem as oito patas, ao corpo daquele nosso tenebroso, eu.

E lá, no fundo da caverna mais profunda, foi encerrada a besta, dentro de urna de pedra esculpida e lacrada com chumbo. E mesmo assim a coisa não jaz lá...

Além dos mal dormidos pesadelos , o som da respiração que se ouve, ainda acordada, assombra e aniquila qualquer vã certeza de alivio definitivo de nós, outros Eus.

Não são tão remotos os rumores de supostos crimes, de pecados praticados em voo arrasante sobre as cabeças dos desafetos nossos dessa nossa intima anomalia.

Atualmente, nenhum de nós esquece de lembrar o quanto nos custou, em vidas e em mortes, a improvável captura do que foi um dia o maior e o pior flagelo do nosso passado... mas não há comemorações à isso... antes, ainda nos mergulhamos em dilemas particularmente opostos. De um lado, existem os que lamentam a condição do irmão aprisionado, e do outro, culpam-se os que se reconhecem como criadores da própria fera. ora bem guardada.

E assim o será... por quanto respirar esse nosso meu Eu Demônio.