POETAS FLUMINENSES
SYLVIO FIGUEIREDO E BRASIL DOS REIS
(OS “PARISIENSES” E A MÚSICA)
Nelson Marzullo Tangerini
Em meu livro “Nestor Tangerini e o Café Paris” (Nova versão, ainda sem editora), comentei sobre o que ouviam os “Parisienses” (leia-se “Os poetas do Café Paris”).
Apollo Martins escreveu “Ária de um triste”, Brasil dos Reis escreveu “Sinfonia noturna”, A. Maldonado escreveu “Ária do mais amado”, Renê Medeiros, inspirado por Wagner e Chopin, escreveu “Sinfonia bárbara”, enquanto Luís Pistarini publicou um livro com o título de “Bandolim”. Por descuido, acabei me esquecendo do soneto Beethoven, de Sylvio Figueiredo, e de “Sinfonia noturna”, de Brasil dos Reis.
No livro “Os poetas satíricos do Café Paris, Clássicos fluminenses, Volume 9, Organização e apresentação do Professor Luiz Antonio Barros, Editora Nitpress, Niterói, RJ, 2014, o autor da interessante coletânea publica vasta biografia de Sylvio Figueiredo, que nasceu à 19 de março de 1891, em Niterói. O “conjunto da obra”, com biografias e sonetos de todos os “parisienses”, um livreto, é de uma suma importância para a literatura fluminense, pois, em cada trabalho, notamos uma miscelânia de influências literárias, que vão do simbolismo (a musicalidade) ao parnasianismo (sonetos rigorosamente dentro dos padrões da escola), com pitadas de Pré-Modernismo – e até Modernismo -, num momento em que o Modernismo surgia com a decisão de derrubar a poesia escrita com rima e métrica. Mas os poetas Niterói se manteriam firmes diante do abalo sísmico da turma de São Paulo.
Vamos, enfim, ao soneto de Sylvio de Figueiredo:
“BEETHOVEN
Em plena mata, a tradição o atesta,
ias buscar inspiração e alento,
a nobre fronte torturada e mesta
e na fronte, em tumulto, o pensamento.
Ias ouvir, entre encantado e atento,
os gorjeios dos pássaros em feta,
os ais das fontes, o coral do vento,
as sinfonias todas da floresta.
Não! Eu sei que bem mais teu gênio exprime!
Não é terrena a música sublime
que em vozes deste mundo nunca ouvi!
Alma sonora, como te iludias!
Tu compunhas somente as harmonias
Do outro universo que morava em ti!”
De Brasil dos Reis (Benedito Angrense Brasil dos Reis Vargas), sobre o qual tantas vezes escrevi, temos
“SINFONIA NOTURNA
O vento que passava sussurrando
Pelas frestas da pobre habitação,
Parecia o concerto formidando
De uma wagneriana orquestração.
A chuva lá caía, peneirando
Umas gotinhas, que, molhando o chão,
Iam o solo humilde fecundando
Para o parto de flores da estação.
Alguém que olhando em torno a negra noite,
E sentindo do vento o rijo açoite,
Não via de uma estrela a luz sequer.
Vê, de entre nuvens se mostrando a lua,
Como de sob a renda que flutua,
Os contornos de uns seios de mulher!”
Como já escrevi sobre o angrense Brasil dos Reis, limito-me a falar de Sylvio Figueiredo, poeta, escritor, jornalista, cronista e caricaturista niteroiense, que faleceu na mesma cidade em que nasceu, em Niterói, RJ, a 24 de novembro de 1972.
Seus textos podem ser encontrados nas páginas de revistas de sua época, como a revista O Cruzeiro.
Diz-se que “A morte colheu-o aos 81 anos, quando lia Montesquieu – a mão esquerda deixou cair o livro; e a direita, o lápis com que fazia anotações dignas de serem conhecidas para melhor compreender-se esse homem que viveu pelo trabalho e para o trabalho”. Assim registrou o Prof. Luiz Antônio Barros, no livro ao qual me refiro.
Como sabemos, Sylvio foi um dos poetas do legendário Café Paris, de Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Era membro da Academia Fluminense de Letras.
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Na foto, Richard Wagner.