QUE OBJETOS SÃO ESSES QUE NOS ACOMPANHAM
De onde veem essas peças que ocupam ou decoram nossas casas
Outro dia, de bobeira em casa, entrei num barato de tentar relembrar de onde vieram estes objetos, ora funcionais, ora meramente decorativos e que de alguma forma foram se estabelecendo em casa, e hoje fazem parte dessa entidade que denominamos como minha casa.
Muitos tiveram vida efêmera e acabaram migrando para casa de amigos, parente ou mesmo a mais triste das situações, uma caçamba de lixo, isso porque perdeu utilidade, ou mesmo deixou de interessar aos olhares dos moradores.
Outros foram substituídos por congêneres maiores, mais modernos, atraentes, ou devido à beleza do material empregado, aí também incluída uma palavrinha tinhosa, a tal da funcionalidade, que serve como desculpa clássica, na hora que resolvemos eliminar um objeto, que subitamente caiu no ostracismo.
Nossas compactas moradias iniciais combinavam com orçamento diretamente proporcional, não permitindo devaneios em relação às pecas funcionais e também as decorativas. Mesmo assim um poltrona recebida aqui, um quadro conseguido ali, iam dando personalidade aos ambientes da casa.
À medida que a moradia crescia, ampliavam-se também possibilidades, e o que antes se restringia ao ambiente interno, agora se expandia para áreas externas, não faltavam paredes e espaços passíveis de decoração.
A antiga samambaia, que trazia uma porção mágica de natureza, para aquele canto da sala junto à janela, de repente perdera seu encanto, a abundância de vegetação no entorno, dispensara vasos nesta nova realidade.
Uma história interessante, e pra lá de longeva, tem um relógio de parede como protagonista. Esse veio de Portugal com meu avô paterno. Ficou durante anos regulando os afazeres de minhas tias solteironas no casarão da Rua Faro, no Jardim Botânico.
Quando nos anos 70, a casa foi vendida, essa foi uma das poucas peças que meu pai teve direito. No pequeno apartamento que minha família morava, o tique tique taque dos mecanismos internos fazia fundo musical, principalmente à noite, quando ruídos externos praticamente cessavam. Agora, seu escandaloso alarme acionado a cada hora completada, chegou a nos assustar nas primeiras noites, logo todos se acostumaram com seus barulhos, e todas aquelas engrenagens em funcionamento não mais nos incomodava.
Este equipamento que usa tecnologia alemã, protegido por esmerada caixa de jacarandá e vidros, tem particularidade na grafia do número quatro, que não usa o “IV romano”, mas sim, quatro bastões “IIII”.
Muita simbologia impregna sua carcaça, como um cavalo empinado sob duas patas e a cabeça de um leão dourado em alto relevo, incrustado logo acima da porta de acesso a parte interna do equipamento.
Não sei se caracteriza como uma especificidade dele, ou se isso era padrão na época de confecção desses aparelhos, exigirem dois tipos de corda, uma para acionamento de ponteiros, e outra para geração das badaladas.
No momento, este mais longevo equipamento da casa aguarda paciente o momento de voltar a uma relojoaria para recuperar seu dispositivo de corda, que rompeu há alguns poucos anos e o valor pedido para o conserto não estimulou ainda sua retomada.