ACONTECEU EM ROMA
Visitar Roma, andar por suas ruas, ouvir a população local ou os visitantes falando os mais díspares idiomas do mundo, vez que “todo caminho leva a Roma”, é um desejo que povoa a imaginação da maioria das pessoas que, de alguma forma, entraram em contato com a história ou que é herdeiro de todo acervo cultural daquele que foi o maior império do mundo.
Comigo não foi diferente.
E para parecer “grandiskoiza” fiz questão de que meus conhecidos soubessem que eu estaria por lá, que iria conhecer a cidade eterna, visitar o Vaticano para ver as obras de arte que fazem a igreja de São Pedro e, talvez, até bater um papo legal com Zé Bento.
Brasileiro sem qualquer cerimônia pede a quem vai viajar que lhe traga uma “lembrancinha” daqueles locais de grande apelo sociocultural ou religioso.
E assim foi que eu recebi várias encomendas.
Ora, quem vai a Roma, obrigatoriamente tem que ir ao Vaticano e é de lá que se deve trazer qualquer coisa relacionada à religião Católica.
Como eu não sou diferente de todo mundo, (apesar da minha mãe ter dito várias vezes – “você não é todo mundo”) foi o que eu fiz, porque o que mais se encontra pelas ruas no entorno da basílica são lojinhas que vendem bugingangas que são atrativo maior para qualquer turista.
Então comprei duas e meia dúzias de terços e fui à cata de um padre para abençoa-los.
Na quinta-feira santa de 2011, eu estava diante da porta de entrada da basílica de S. Pedro onde se formam várias filas de visitantes que são admitidos aos poucos, porque é gente que não acaba mais.
Uma vez lá dentro, haja procurar um padre no meio daquela multidão, até que vi, entre dois altares um sacerdote que, imagino, tenha ido lá para receber alguma promoção pois além de devidamente paramentado, estava acompanhado por várias pessoas (talvez familiares) que pelos trajes coloridos de todos e as mulheres usando turbantes e grandes laços nas cabeças, eram com certeza africanos.
Deduzi assim, porque já havia visto algo semelhante pelas ruas de Tenerife.
Eles falavam inglês e eu, para colocar mais um tijolo no meu muro de coisas mal engendradas, usando o inglês ralé com o melhor sotaque pernambucano, pedi ao padre: - Priest; bless it, please.
O sacerdote era um negão beirando os dois metros de altura, olhou para os terços em minhas mãos, tirou do bolso da batina um frasco de vidro decorado, espargiu água benta e, numa língua que não era nem latim nem inglês, acompanhada por gestos teatrais com as mãos espalmadas fez a bênção que eu solicitara.
– Thank you very muche, priest.
– You are welcome, son... Brasil? (Ele perguntou apontando para o broche da nossa bandeira em minha camisa)
– Oh! Yes (respondi com orgulho patriótico) e me afastei antes que ele falasse algo que eu não iria entender ou saber como responder.
Coloquei os terços na sacola e me juntei ao grupo para admirar embevecido aquela igreja que é, sem sombra de dúvida, o maior monumento da arte sacra mundial.
São tantos itens, tantos detalhes, de forma que, mesmo que a visita durasse um ano, não daria para apreciar as nuances daquilo que, levados pela urgência dos guias de turismo, vemos como flashes de um longa-metragem.
FALAS
- Priest; bless it, please. = Padre, abençoe, por favor
- Thank you very muche, priest. = muito obrigado, padre.
- You are welcome, son = De nada, filho
- Oh! Yes = Oh! Sim.