Desconfie de si mesmo - BVIW

Tema: terceirizar

 

Sabe? Outro dia fiquei pensando sobre a mulher, que é filha, às vezes neta, irmã, mãe… A minha geração empurrou a mulher para o mercado de trabalho. E aquelas que escolheram a missão de formar uma família, acabaram ficando com, no mínimo, três trabalhos diários para fazer: ser esposa, mãe e trabalhadora fora do lar. Sou primogênita de uma família de cinco filhos. Tinha sonhos grandes de estudar fora, dizia que chegaria à França. Mas a situação financeira da minha família não me dava condição. Consegui me mudar para Belo Horizonte, morando de favor no apartamento dos meus tios-avós, cujos primeiros meses foram financiados pelo avô materno. Logo depois, arranjei um emprego, por boa influência de parentes, agarrando-me a ele como minha tábua de salvação. Por causa dele, estudei Psicologia, paguei meu curso, minha psicoterapia e só mais à frente me casei, pertinho dos trinta anos de idade. Tive um casal de filhos e uma neta que nos coube criar. É bem aqui que quero chegar. Achava super normal ter filhos e pagar a uma pessoa de confiança para cuidar deles, enquanto eu trabalhava oito horas diárias no serviço público. Realmente, tive uma pessoa por dezessete anos, que fez muito por minha família, contratada como empregada doméstica. Mas agora, que tudo já passou, a dúvida, a desconfiança e até o martírio de “será que eu fiz a coisa certa?” instalou-se em mim. Por que, terceirizar maternidade é uma coisa séria. Terceirizar o cuidado com os pais idosos ou avós é seríssimo. Terceirizar cuidados de gente é uma situação muitíssimo melindrosa! Ah, mas temos uma lista de desculpas, muitas réplicas para essas questões! Eu sei, eu sei! Eu já respondi para mim mesma a fim de aliviar a culpa. Mas convém examinar bem direitinho. Convém se perguntar…

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 27/03/2024
Código do texto: T8029000
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