"TÁ PAGO": O Eco da Redenção Entre a Academia e o Gólgota
Quando tomei a decisão de ingressar em uma academia de ginástica, a preguiça mostrou seus músculos. O treino do primeiro dia foi épico. Transbordando suor terminei com a pressão arterial nos pés. Esforçando-me para não ser notado, dirigi-me à saída vestindo o meu manto da invisibilidade. Não foi difícil perceber que o disfarce fracassou quando ouvi meu nome com voz característica e cheia de energia. Tive que voltar, coisa que não faria se meu nome fosse José ou João, mas “seu” Heron não tinha outro. Fui surpreendido pela competente treinadora com um largo e alvo sorriso acenando a mão e dizendo: “Tá pago”. Sem entender muito bem o que aquela frase significava no contexto da academia, deixei pra trás aquele templo da saúde certo que um dia “Tá pago” já fez parte da minha existência.
No caminho de casa, “Tá pago” abriu o baú das memórias. Uma delas era dos meus tempos de menino. No início de cada mês, recebia de minha mãe a tarefa de ir ao empório pagar a conta das compras a fiado. Traduzindo, o empório era um mercadinho, e fiado era comprar e deixar para pagar depois. O dono do empório recebia o dinheiro de minha mão e me entregava uma ficha com a relação das compras feitas no fiado. Mas não era apenas isso que confirmava o pagamento.
A conta paga me fazia voltar para casa com um brinde que podia ser um pacote de bolachas ou barras de sabão. Ambos eram intragáveis. Apesar disso, retornava satisfeito com o brinde e a ficha que fora o registro de uma dívida A ficha recebia um carimbo com duas palavras que até minha avó com cataratas avançada leria sem dificuldades aquelas poucas letras maiúsculas na cor de sangue: “TÁ PAGO”. Sim, ali estava o elo para a intrigante frase da treinadora.
Esta expressão, entre outras, passou a fazer parte do moderno mundo fitness, porém, cada vez que a ouço não posso deixar de pensar no poder transformador que ela me toca. As páginas iniciais da história revelam seu uso comum para a humanidade. Basta entrar no túnel do tempo e apontar para os dias de Cristo que o viajante encontrará o uso frequente de “Tá pago” em recibos de impostos ou na ficha criminal de infratores condenados. O total pagamento do imposto devido, ou o pleno cumprimento da pena imposta ao criminoso, faria que o documento contendo o escrito da dívida fosse totalmente riscado e escrevia-se no rodapé a expressão “Tetelestai”. Na língua grega, tal palavra significa “dívida paga” no tempo perfeito. Foi paga, está paga, e continuará paga.
Na tarde da primeira sexta-feira santa, esta contundente expressão foi ouvida por quem se achava no Gólgota aos pés da cruz de Cristo. Seu derradeiro clamor, como uma espada, rasgou os céus com a expressão “está pago”, ou no original: “Tetelestai” (João 19:30). O único e perfeito Cordeiro sacrificial de Deus garantiu com seu sofrer em meu lugar que o preço da dívida dos meus pecados fosse pago integralmente.
A dívida no empório renova-se a cada mês, da academia a cada treino da academia, mas a dívida dos meus pecados foi paga por Cristo de uma vez por todas. Esta é uma transação completa, integral e perfeita, que me reconcilia com Deus. Portanto, a expressão “Tá pago” deixou de ser pra mim apenas uma frase casual ouvida na academia, mas um lembrete poderoso do sacrifício de Cristo e da redenção que me foi dada gratuitamente. É uma afirmação de que a dívida foi paga, está paga e continuará paga. Diante disso, posso sorrir largamente como minha treinadora e dizer: “TÁ PAGO”.
"e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz," Colossenses 2:14