POR QUE ARRISCAR-SE GRATUITAMENTE?
Corria o ano de 1960, ano que a literatura diz que iniciam um fechamento de um ciclo de desenvolvimento, neste caso, o desenvolvimento neuropsicomotor, exatamente neste ano, já com cinco anos, completamos a segunda infância.
Dentro d lógica da literatura tudo corria bem, mas eu imaginava ser alguém diferente, talvez fosse, por acreditava só vendo, tipo São Thomé e ia mais longe, atormentava a mamãe e a professora, querendo saber de tudo.
Neste mesmo ano quando vinha da escola, pedi para mamãe que sentássemos na praça e ela olhasse para o céu e me explicasse como os japoneses não caiam no espaço sideral. Indagação decorrente de um comentário feito por um colega na sala de aula. Morávamos no bairro Belém Novo, em Porto Alegre, naquela época parecia uma cidade vizinha da capital, e a escola era contigua a Igreja Nossa Senhora de Belém.
No inverno de meus cinco anos retornávamos da missa, mamãe, papai, eu e minhas duas irmãs, e dezenas de famílias que estavam na mesma missa, logo a frente havia uma aglomeração, ao ombrearmos com elas, eu me abaixei para poder espiei na direção que a maioria olhava. Era uma casa de alvenaria, distante uns 20 m do portão e estava com a port aberta deixando a mostra a televisão, que estava ligada. Raríssimas pessoas tinham tal eletrodoméstico, assim ver a novidade era indispensável. Não espiei mais que alguns segundos, quando papai me pegou pelo casaco, e disse-me para continuar, dizendo-me, onde já se viu ficar espiando a casa alheia. Fiquei quieto, mas as imagens ficaram me atormentando, então agarrei-me no casacão de mamãe e contei o que vira e já indaguei como a pessoa que estava no filme não tinha medo de ser engolida pelo jacaré. Um ano depois entendi que o homem que corria por um corredor abrindo portas que levavam para situações de perigo era uma comédia. Sobre ele não ter medo de morrer, como perguntei para mamãe foi porque assisti ele abrir três vezes onde havia, o que hoje eu arriscaria que fosse um crocodilo sair correndo novamente. Embora sejam logradouros diferentes, a avenida onde situava-se a casa, termina onde começa uma pequena rua, que tinha dois cinemas, num curto espaço de 200 metros de cumprimento, onde vovó já havia nos levados para assistir matinés!
Como o tempo não para vamos experimentando outras experiência que acreditamos que possam ser comuns com outras crianças, adolescente e adultos que fomos, antes de ingressar na velhice, mas me parece que não, pois a cada experiência perigosa aprendemos a evitar algo parecido, com sentido de preservação, mas vivenciar fatos semelhantes, não geram reações semelhantes nas pessoas. Certa feita cai de uma escada de um metro de altura e minha perna trancou entre os degraus e tive uma fratura exposta grave, agora tenho dois cintos de segurança, que uso frequentemente. Aqui perto de onde moro tem um pedreiro que já cai três vezes do andaime e continua não usando cinto de segurança, mesmo tendo ficado em estado grave na primeira queda. Sempre quando vejo alguém arriscando-se gratuitamente lembro do comediante que assisti nos meus cinco anos de idade!
Claro que o arriscar-se surgem de todas as formas, que em resumo significa cutucar onça com vara curta, mesmo sabendo que poderá permanecer alguns anos vendo o Sol quadrado e o pior sem ganhar nada por isto, diferentemente do comediante que ganha a vida fingindo que se arrisca!
Ora, ora, estes ditados populares, que ficam por ai dando rasantes sem mandar aviso, mas não deixar passar batido, que para bom entendedor meias palavras bastam!