País dividido?
Quem visse aquela cena não poderia entender: estamos realmente num país dividido, às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais de 2022?
Saio a pé para comprar uma cerveja e apreciar em casa. É sexta-feira, 28 de outubro de 2022, e já está em andamento o debate presidencial na tevê. Na volta para casa, olho o movimento nos bares. No Santo Gato, anexo a um posto de gasolina, um pagode ensurdecedor toma conta daquela sexta-feira. Não se ouve nada, muito menos o pagode. Mas aquela Babel ainda tinha mais participantes. Dois aparelhos de tevê, pendurados ao lado dos pagodeiros, mostram um jogo de futebol americano feminino da LFL (Legend of Football League) pelo Youtube e um jogo do Vasco da Gama, então na Série B do Brasileirão. Em evidência no futebol americano, a exuberante star Monique Gaxiola. Pleased to meet you, Ms. Gaxiola.
Isaac, o gerente venezuelano do Santo Gato, me conhece e vem me avisar que os churrasquinhos vão voltar, Opa, serei freguês de novo. Não digo, mas penso: nunca virei aqui para ouvir música. Na sequência, um vigia de carros me vê e pergunta se vou cantar de novo. Não sei por quem me toma, digo que não sou cantor, ele ri como se ouvisse uma piada.
Bom, e o debate, que deveria ser a cereja do bolo daquela sexta-feira, é mostrado por dois aparelhos de tevê, também pendendo do teto. Aquele bar era o melhor lugar para não ouvir. O pagode abafa tudo, inclusive a si mesmo. Na calçada, algumas pessoas conversam, a maioria consulta seus celulares. Ninguém olha para os dois aparelhos onde o destino do Brasil está em jogo. Não parece, de maneira alguma, que aquele evento acontece num país a caminho de quase guerra civil e o quase golpe de estado no 8 de janeiro seguinte.