Elogio ao risco

O célebre apresentador de televisão faleceu em busca do conhecimento da natureza após ter se exposto ao estado aleatório de todos os seres peçonhentos da biologia. A televisão aproveitou sua coragem e talento para que nós telespectadores assistíssemos no sofá mole tão memorável figura. Segurava cascavel pela cola, peixe-pedra na palma da mão, além de façanhas inimagináveis. No tempo em que sempre se diz: “não repitam isto em casa!” para separar o que é politicamente correto do incorreto ele representava um expoente do elogio ao temerário pela TV. Mais um ser humano oriundo da expressão “lucro, incerteza e risco” pelo futuro incerto que imprime na sociedade de consumo e persuasão a total ausência de medo nas raras lições de receio e prudência da informação global.

Decisões impulsivas e rápidas ganham mais apreço na tendência competitiva transmitidas em imagens. Diferentes do processo calmo e reflexivo das leituras demoradas. A matemática aliada da rapidez da imagem gerou uma civilização exposta ao risco como medalha de honra ao mérito. A imprensa valoriza o profissional que penetra no cerne da turbulência, no túnel desabando, entre as chamas do sinistro, para inserir realismo vivo ao domínio da informação eficiente em tempo real. Sem tal condição seríamos vistos como covardes e indecisos.

Na mesma seqüência vem a alta velocidade nos prestigiosos eventos das corridas cada vez mais velozes e poluentes. A pressa na moda em voga para esmagamento, colisões em ritmo brutal e acelerado. Quem falasse em segurança nos primórdios da indústria automotiva contrariava os princípios da venda. Alardear o risco resultaria na queda dos números.

Assim torna-se necessário o lançamento das disposições da esperança, com grande camada de misticismo, para atuar no homem em seu particular curso com modelo tão excepcional as raias da normalidade. Resultado: estamos impregnados da idéia de que a vitória de um é tão somente a derrota de outro. O que fazemos é automatizar soluções nesse conflito de interesses intervenientes. Aplaudimos o entesouramento dos riscos para triunfo dos martírios cotidianos.