UM SÁBADO IMPACIENTE

Fatos às vezes acontecem para explicar que efetivamente existem mais coisas entre o céu e a terra, que nossa vã filosofia pode explicar.

Ontem, saí de casa as pressas, minha esposa iria passar por uma cirurgia odontológica. Não cheguei a rodar duzentos metros, e num estalar de dedos ouvi um barulho, imediatamente tudo em volta ficou verde. Passada uma fração de segundos, então o para-brisa do carro começou a emitir aquele típico ruído de vidro rachando.

A primeira reação foi frear o veículo e tentar sair o mais rápido possível, e foi o que fiz. Já do lado de fora, entendi que a sorte não havia me abandonado por completo, o pesado galho que caiu sobre o carro, foi freado pela trama da trepadeira, e assim o impacto foi significativamente reduzido.

Retomei a direção do veículo, e engatei uma ré radical, tentando sair da pressão que o galho exercia sobre o para-brisa. Interessante reparar que os racks, fixados no teto do veículo, também exerceram papel protetor da carcaça. Por incrível que possa parecer, a solução foi acertada, e o estrago ficou restrito ao para-brisa, agora trincado em longas linhas e círculos de tamanho diverso, transformando esse vidro plano numa espécie de mosaico monocromático pós moderno.

Conseguimos chegar a tempo e hora no consultório, felizmente ninguém no caminho reparou que o carro branco, agora disfarçado de verde, função da quantidade de folhas coladas a lataria, nem mesmo a chuva e o vento do trajeto conseguiram descolá-las, claro, além do para-brisa com ares pós modernos.

Aproveitei o tempo de espera no consultório, para acionar o seguro, marcando a substituição da peça para o dia seguinte, logo no primeiro horário.

O sábado amanheceu cinzento e chuvoso, o que combinou com as cores do trajeto até o bairro de São Cristóvão.

Aquela história de um raio cair no mesmo lugar, já foi comprovado como factível, para manter o nível de coincidência, veja você, ao meu lado estacionou outro HB 20 também branco, com o para-brisa rachado por queda de um galho de árvore.

Agora duro mesmo foi aguardar por três horas e meia, tempo de espera da colagem do para-brisa a liberação do veículo. Como sabia antecipadamente dessa permanência forçada na oficina, carreguei um livro, ingenuamente supondo que destinassem algum lugar calmo para leitura.

Ledo engano, o lugar reservado para esperar a conclusão dos serviços era uma sucursal do inferno, que contava com uma TV esganiçada metralhando notícias de violência, intercalando fatos cariocas com paulistanos. Claro que num ambiente com essas características, conversar vai exigir dos interlocutores força de expressão e acuidade auditiva, pois como todos sabemos barulho é uma atividade cumulativa.

Por mais que tentasse abstrair a balbúrdia ambiental, a leitura evoluiu muito pouco. O barulho era tanto, que para fazer uma simples ligação, fui obrigado a caminhar até o lado de fora da oficina, e assim conseguir falar e ouvir. UFA, ainda bem que tudo passou!!!!!

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 24/03/2024
Código do texto: T8026657
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