A minha hora preferida do dia é quando acordo. Não há nada mais precioso do que abrir os olhos todas as manhãs e ver que mais um dia se apresenta diante de mim. Parece uma frase tão brega, "cheesy" como diz o americano,  mas é realmente o que sinto. Poder me levantar, fazer meu café, olhar lá fora a natureza, tudo em silêncio. E a cada colher de pó na cafeteira agradeço pela vida.

Estamos na primavera, embora a temperatura tenha estado abaixo de zero. Mas as árvores não se importam com o frio; parece que despertam de seu sono de inverno e sussurram umas para as outras: “Psssiu acorda, é hora de vestir o vestido branco de primavera!”

 

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E eu já começo a antever os próximos passos… Ah! as minhas flores! Aqui não tem flores eternas como no Brasil. Algumas chamadas perenes, renascem. Mas outras, só plantando mesmo, como o girassol! Quero ter um girassol lindo esse ano! O ano passado plantei, mas nao brotou. Mas no ano de 2022, plantei tres sementinhas e depois de  81 dias nasceu um lindo! 

 

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As sementes devem ser plantadas em meados de Abril, quando a possibilidade de frio é pequena (apesar de que estamos vivendo uma época em que não podemos contar com as previsões meteorológicas).

Aqui até os jardins sao "fabricados". Eles aparecem da noite para o dia, com aqueles que compram as flores ja nascidas em estufa. Essas sao minhas sementinhas que aguardam para serem plantadas.

 

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Nesse último Domingo, uma surpresa na Igreja: um pastor negro, maravilhoso! Aquela voz característica, aquela entonação incomparável que carrega uma habilidade única de improvisação que mexe com o mais profundo da alma. Além de suas palavras terem sido maravilhosas, cantou uma música tão linda que encheu todos os cantinhos da Igreja, enquanto o sol entrava pelos vitrais coloridos criando um halo dourado. Não se ouvia dos presentes qualquer som ou ruido, como se não quisessem perder um só segundo daquela emoção - aquele foi um momento sagrado! Quando saí, fui cumprimentá-lo e ele, maravilhosamente humilde, me deu um abraço tão carinhoso, aquele tipo de gente que olha nos olhos.

Voltei para casa com uma sensação tao boa  dentro de mim. Esses momentos não valem por uma vida?

 

Quando meu carro entrou no meu condomínio, notei  aquela senhora de quase 90 anos, de bengala, lutando para sair do carro (e ela não gosta que ninguém a ajude. E ainda dirige. Ah! a independência americana!). Acenou de longe, numa mensagem muda: "Nao se aproxime, nao me ajude!".

Meu velho vizinho Dan, com seu bonézinho,  estava saindo para sua caminhada diária e paramos um pouco para conversar. – “Não foi à missa, Dan?” e ele com aquele sorrisinho maroto disse: “Ah! Maria não tenho sido um bom cristão!”. Rimos juntos e nos despedimos com um abraço (coisa rara que tem que se aproveitar!).

 

Parei para ver meu jardim com algumas mudinhas nascendo (as perenes) e minha árvore floresceu. Só floresce duas vezes – agora e no fim do verão.  Os gansos já estão voltando para o lago.

 

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E assim começa mais uma primavera. Mais uma oportunidade  de poder me inspirar nessa renovação e tentar deixar de lado aqueles pensamentos obssessivos e algumas vezes tristes que me levam  a lugar algum. 

Por isso fujo um pouco das más noticias, das guerras e tento achar um pouco de poesia no dia a dia. Acho que tenho a sindrome de Poliana.

 

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Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 23/03/2024
Reeditado em 23/03/2024
Código do texto: T8026261
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