Big Brother do Terceiro Milênio
Não sabia muito bem o que precisava fazer para sair do impasse com a falta de seu telefone fixo. Sentia que era inevitável comprar um telefone móvel, já que os celulares analógicos estavam tão fora de consumo como os orelhões nas ruas. Pior é que este tal de “smart” era a pior opção, pois a ligaria de imediato às plataformas das redes sociais. Sentia que seu sossego ia acabar. Mas não tinha saída. A sorte estava lançada.
Estava com medo de pegar as manias que todos ostentavam de mostrar fotos de seus familiares, suas viagens como faziam em todas as redes sociais. O mundo ficava reduzido a nosso próprio umbigo. Com quase todo mundo afetado pelo modismo tecnológico, e o mercado descartando os objetos antigos, era mais que óbvio que não tinha saída e, se pensasse muito dava para ficar de baixo astral. As pessoas estavam cada vez mais empobrecidas não só com a visibilidade da pobreza dos sem teto nas ruas, como a pobreza de espírito entre os privilegiados. Mas o que fazer se fosse recusar o que lhe era imposto como principal meio de comunicação?
A Digital 2022/ Brasil informava que o WhatsApp tinha 165 milhões de brasileiros com este aplicativo. O ranking/2023 das dez redes sociais mais usadas no Brasil, o WhatsApp estava em primeiro lugar com 169 milhões de usuários. O “Zap” passou a ser uma unanimidade nacional. E como não ficar preocupada com os efeitos do uso da Internet nas mentes humanas? Os algoritmos no Facebook acertam até o humor do usuário, se está triste ou feliz, com base na velocidade que se rola o feed, digita e pisca os olhos. Academicamente, comprovado. (Milena Cogo,2020)
De tão cismada com o uso de seu novo aparelho, quis rever o livro de George Orwell, 1984, uma ficção científica de sucesso no século XX, que influenciou filmes e até a série Big Brother Internacional que, no Brasil veio para ficar. O romance descreve o futuro mundial comandado por ditadores que usam “a polícia do pensamento” e as “teletelas” para manter seus habitantes sob controle. Hoje são as televisões e as câmeras que se vulgarizaram em todos os lugares onde vivem os humanos.
O smartphone dava trabalho para aprender a lidar por conta da Inteligência Artificial (IA), ou seja, quanto mais complexo, mais demorado e mais fácil de viciar os seus usuários. Mesmo com domínio parcial é usado como sinal de antenados no mundo, e para mostrar aos amigos seu êxito e felicidade familiar. Também se tornou essencial pelas mil atrações das redes sociais. Não é só uma peça para o trabalho formal. É feito propositalmente para viciar. É só olhar ao redor e ver a quantidade de pessoas no transporte público usando as maquininhas como “passatempo”. E quantos acidentes ocorrem no mundo por conta dos motoristas que atendem ligações dirigindo os veículos? Há muito mais lixo cultural na Internet que coisas úteis. E isso não é novidade para ninguém. No livro de Orwell as “câmeras” chamadas de Big Brother eram “o olho que tudo vigia”.
A mulher viu-se obrigada a conhecer e lidar com o “smart” e observou que as pessoas não só ficavam se sentindo mais “smart”, pois sabiam mexer no objeto, e o usavam cada vez mais para trabalhar, namorar, fazer sexo virtual, aconselhamento, pagamentos, etc. Até desenvolveram a síndrome de perder ou ser roubado. O seguro contra roubo de celulares já é banalidade. Será que este objeto do desejo de milhares de brasileiros poderá um dia ser considerado um símbolo fálico?
Na sociedade orwelliana os homens ficavam cabisbaixos e com medo. No BBB da Tv Globo todos competem com todos buscando os holofotes e a fama dos medíocres. Não teria o mesmo objetivo a busca das redes sociais, das lives, dos blogueiros que não só permitem o brilho dos medíocres, como criam espaço para emprego de pessoas sem talento e sem vocação? Todos gostam da ribalta. A cada passo um flash.
De uma certa forma, nós os usuários, somos feitos de cobaia para aprovar ou não uma novidade técnica e como futuros consumidores dos produtos veiculados pela propaganda e vendidos pela Internet. Garanto a vocês que não existe o rigor da lei para punir um Big Boss de uma Big Tec. Mas volta e meia falam da regulamentação do uso da Internet que pode virar “censura”. Todos nós perderemos com isso.
Vimos que a Internet como veículo de comunicação tem múltiplas utilidades, não só “vigiar e punir” como uma gama de plataformas e aparelhos eletrônico/digitais que podem exercer o controle repressivo e o controle ideológico dos usuários. Por isso pode-se dizer que o WhatsApp é uma plataforma da rede social que, além de ser dotada de câmeras que podem servir para o “vigiar e punir”, usa dos insidiosos algoritmos que interferem no inconsciente. Pode servir para fofocas e difamações com grupos de amigos do zapp. É um veículo de contatos, diversão e lazer. Faz parte do dito popular “me engana que eu gosto”, ou do famoso e antigo ditado “pão e circo para as massas”.