TERRA PELADA: OURO DE TOLO

Moacir José Sales Medrado[1]

 

Em um planeta cada vez mais marcado pela pegada humana destrutiva, esta crônica emerge como um lembrete vívido das cicatrizes que podemos deixar na paisagem natural em busca de prosperidade imediata. Inspirada pelo desastre de Serra Pelada, esta crônica não narra a busca frenética por metais preciosos, mas sim a corrida contemporânea pelo “ouro verde”: a promessa enganosa de riqueza rápida através da destruição das florestas para dar lugar a monoculturas e pastagens mal manejadas.

 

Em muitos locais de nosso país, onde a biodiversidade outrora tecia um manto vibrante de vida, agora se estendem vastas extensões de terra desnudas e degradadas. Desmatadores predatórios e não empresários do agronegócio como muitos apregoam equivocadamente, seduzidos pela miragem de lucros imediatos, abraçam a prática de derrubar e queimar, transformando florestas, quando muito, em uma agropecuária predatória. Eles perseguem o “ouro de tolo”, crendo que a devastação ambiental é o preço do progresso, um pensamento que ecoa os ecos distantes do garimpo de Serra Pelada, onde o sonho de riqueza se desvaneceu tão rapidamente quanto surgiu.

 

Mas, assim como a própria natureza, esta crônica não é de desesperança. Ela traz à tona a percepção de que este modelo destrutivo não representa o agronegócio brasileiro. Ao contrário, ele é a bandeira de uma minoria: daqueles que buscam na abertura de novas áreas uma oportunidade para regularização futura ou de indivíduos alheios ao sucesso de sistemas integrados de cultivo que harmonizam a produção agrícola com a conservação ambiental.

 

Pelo Brasil e mundo afora, exemplos de sucesso em agroflorestas, sistemas integrados de lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e outras práticas sustentáveis mostram que é possível, sim, reconciliar agricultura e natureza. Esses modelos são a antítese do ouro de tolo: são o ouro verdadeiro, valioso porque sustenta não apenas a economia, mas a vida em si.

 

Encerro esta crônica "Terra Pelada: Ouro de Tolo" não com uma nota de desespero, mas com um chamado à ação. Ela desafia a noção de que a destruição é sinônimo de progresso e reconhece que, embora a mudança de mentalidade possa parecer improvável, ela não é impossível. Sugere a história que a verdadeira prosperidade reside não na exploração desenfreada, mas na coexistência equilibrada com o mundo natural. É um lembrete de que, embora possamos nos desviar pelo caminho do ouro de tolo, a sabedoria e a tecnologia estão ao nosso alcance para escolhermos um futuro mais verde e sustentável.

 


[1] Engenheiro Agrônomo (UFC), Especialista em Planejamento Agrícola (SUDAM / SEPLAN – Ministério da Agricultura), Doutor em Agronomia (ESALQ/USP), Pesquisador Sênior em Sistemas Agroflorestais (EMBRAPA – aposentado), Consultor em Sistemas Agroflorestais