A "biquinha" e seus mistérios...
Na minha adolescência, por um bom tempo, vivi num sítio bem afastado da cidade. Lá não tinha rede elétrica, por isso, utilizávamos um motor a diesel para gerar energia. Então toda noite, surgia um problemão; porque, quando começava o anoitecer era a hora de ir ligá-lo, até aí tudo bem, pois ainda havia claridade, o problema estava na hora de desligá-lo. Toda noite, sem eletricidade, o lugar vivia um apagão. Só havia o brilho do céu. Tudo ficava numa escuridão só. Tudo ficava iluminado apenas pela lua e as estrelas, isso, normalmente já tarde da noite. Dizem por aí: - “Que a noite todos os gatos são pardos” – É uma grande verdade! Distinguir formas e cores, durante a noite, sem, pelo menos uma lanterna, é quase impossível. E assim, por analogia, tudo que se via por lá formavam uma única e estranha paisagem, composta por sombras e vultos, ora de animais; ora de morcegos com seus voos rasantes, tendo às árvores de fundo compondo o cenário. Por isso, ninguém queria esta tarefa; ela sempre sobrava pra mim. Um sacrifício válido para assistir televisão. Tinha-se poucas alternativas para se divertir à noite naquela época! E para piorar, esse motor ficava localizado há uns bons metros do casarão (casa principal), num barracão perto de uma “biquinha” rodeada por bambuzais, que movidos pelo vento, emitiam um ruído produzido pelo roçar das folhas, similares a uma cantoria fantasmagóricas; com vento forte ou fraco, não importava. Os bambuzais empurrados por ele, por serem flexíveis, se mexiam na direção para onde ele soprava, e fazia um barulho de “alma penada”. Sem falar dos de outros ruídos; como o piado de corujas, e os “grunhidos” dos bichos e outras aves noturnas. E aí, minha gente, a imaginação corria solta, o medo nascia e crescia exponencialmente.
Então eu corria e cantava alto para acalmar meu coração disparado; quer dizer – diminuir o ritmo seus batimentos, acelerados por conta dos fantasmas, criados pela minha imaginação demasiadamente fértil – coisa da idade. Mas, numa noite daquelas, posso jurar que vi, um senhor de branco, saindo dos bambuzais, rindo, e vindo na minha direção, e, se aproximando cada vez mais, isto, em câmera lenta. Não quis pagar pra ver, lembro-me que desliguei o motor com as mãos tremulas e sai numa carreira danada. Sim, desliguei o motor a diesel, e liguei o meu que já beirava a taquicardia, acelerando a corrida ao máximo, e só parando debaixo dos meus cobertores...