A DANÇA DA PRIMAVERA

Tem dias em que eu choro porque minha primavera não é silenciosa, nela o vento não se envergonha de assobiar enquanto as folhas das árvores dançam. Minhas lágrimas regam o chão ventilado e primaveril. E qual seria o motivo primordial de meu pranto? São tantos, me gritaria a alma. Posto que chorar parece deveras com domar os traços da tristeza, dir-se-ia talvez amordaçar a angústia, amarra-la por completo e joga-la no fundo do mar do esquecimento.

As primaveras são floridas e perfumadas, mas também chegam frias e ruidosas, têm cores e aromas, trazem consigo o clamor das plantas no cio. Então por que choro se o mundo se torna mais bonito nessa estação de abundância floral e romântica? Certamente por isso mesmo, a beleza exalando doces fragrâncias mexe com as mágoas do coração provocando aquele inesperado aperto no peito. Poetas nunca seguram as lágrimas.

Embora eu não seja poeta, minha alma é. E quem consegue subjuga-la quando a avalanche explode dentro de si derrubando barreiras e forçando passagem? Alcançar os olhos para desaguar no rosto mostra o poder inigualável da lágrima. Chorar é próprio das almas poéticas, principalmente na primavera. Mas qualquer outra razão também pode resultar nos úmidos fragmentos tristes descendo pelas pálpebras. Nesse instante lacrimejar se mostra poético.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 22/03/2024
Reeditado em 22/03/2024
Código do texto: T8025517
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