Fragrância da Infância 

 

Ah! tempo de infância,

Sem celular, internet e rede social.

Nossos celulares eram nossos livros.

Nossas internets eram nossas pipas empinadas.

Nossa rede social eram as brincadeiras de rua.

Quantas boas lembranças.

Da casa do vô Adão e da vó Lilica.

Do som, do cheiro, da cor e do sabor.

Do tempo generoso, vagaroso e bondoso.

Ainda ouço o barulho da água caindo da torneira,

invadindo a chaleira e em seguida borbulhar.

O vapor dissipando leva até o quarto

As fragrâncias matinais que não esqueço jamais,

do perfume do café da vó Lilica;

Ah! tá na hora do café, Tonico já tá de pé.

O pão quentinho derretendo a manteiga, hum! é bom demais.

É domingo e o sol tá legal, ah! Tem escola dominical!!

A tia desbaratinada, pirada, e já atrasada.

Vô Adão liga seu caminhão. Corre que lá vem “Tijão”

Pronto para estalar uma sardinha num bumbum desatento, aaaaiiiiii...

Pelo caminho vão subindo crianças sorridentes, algumas sem dentes,

Mas felizes e contentes, quanta gente!

Chegamos. Sanfona tocando muita gente cantando.

Ainda de fora destaco as vozes.

A família Aguiar com seu humor de lascar,

Jeremias na sua charrete dizendo: é melhor que chevette,

até apelidou-a de “Cherrete”.

Cantoria e flanelógrafo, viajamos nas histórias.

Crianças sendo ensinadas no caminho em que se deve andar.

Opa! Tá chegando mais gente. 

Iiii!!! São os do bairro inimigo, o chefe.

Suspense... E agora? Estou no meu mais sagrado território.

Expectativa... quem dará o primeiro sinal?

Será de porraaaadaaa!!!! Ou quem sabe, “E aí... tudo bem?”

Aprendi que devemos dar outra face.

Logo agora? Sou batizado, mas este pedaço de pau, não.

Olhares se travam, um silêncio profundo anuncia o por vir.

Samuca expressa seus mais profundos sentimentos,

traduzidos em odores sonoros de uma flatulência

que expulsa qualquer tipo de demônio ao seu redor.  

Gargalhada ecoaram no ambiente.

A cara amarrada semelhante a um bulldog não se dissipa.

Quebrar o gelo? Afinal, sua amizade seria um passaporte em seu território.

Sabia que leitão nunca era escalado, por motivos óbvios.

...E aí leitão, vamos bater uma “pelada”?

Nada como usar a linguagem universal.

O sorriso se estampou na cara do dito-cujo.

Colocá-lo na linha eu seria massacrado por minha corriola,

O gol lhe caía bem, meio a contragosto.

Aos desavisados, atualizei cada um.

Com vista ao passaporte, até chutaram fora. 

No dia seguinte, fomos ao temido bairro.

...Ei moleque! Carpem todos fora!

- Deixa disso, seu chefe nos procurou, até jogou bola conosco.

- Sê tá maluco né? Até parece.

Vai chegando Leitão. Como aquele ditado: amigos, amigos, negócios a parte,

Ao pé do ouvido, Leitão manda a real,

e entendemos seu possível destino, segundo a lei natural das relações.

Uma barganha? Libera três daí que liberamos três de cá.

E fomos felizes por um tempo.

Sobreviver as hostilidades aguça nossas estratégias.

Em nossas escolas a leitura de um livro nos foi obrigatória:

“Os Meninos da Rua Paulo”, do escritor Húngaro Ferenc Mounár.

Garotos, sempre os mesmos em qualquer lugar do mundo.

Sofremos, cantamos, apanhamos, batemos, alegramos, vibramos,

gritamos, jogamos, fingimos, barganhamos, lutamos,

brigamos, guerreamos, mas aprendemos.

A escola da vida, a arte de saber aprender.

A arte de se defender, de ajudar, amparar.

De saber que só, não chagaremos a lugar nenhum.

Hoje guardo na lembrança com muito carinho os

Momentos de infância que Deus me proporcionou.

E a Ele sou grato por ter vivido estes momentos.

 

WALTER FIGUEIREDO
Enviado por WALTER FIGUEIREDO em 21/03/2024
Reeditado em 23/03/2024
Código do texto: T8024686
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