🔵 Só se vive uma vez
Num bar na Vila Madalena, fomos “intimados” a ir numa festa itinerante dos anos 80 no Centro de São Paulo. Por que não? Estávamos no século XXI e eu sabia da “furada” que eram essas tentativas frustradas de reproduzir ou reviver décadas passadas. Geralmente é uma galerinha que não tem a mínima ideia do que foi aquele período.
De 20 em 20 anos rola uma nostalgia de tempos não vividos ou, pior, uma caricaturização na tentativa de reproduzir, portanto, simplificar, uma época. Esse fenômeno aconteceu muito com os 50’s, 60’s e 70’s. O resultado sempre foi, lógico: um punhado de rockers com gel no cabelo, hippies de butique (criados na 25 de Março) e clubbers de brechó.
Fomos conferir aquela “modinha retrô”. Conclusão, a “festa estranha com gente esquisita” parecia o que eu temia: uma festinha de criança, com adultos extremamente infantilizados, Festa animada com músicas do ‘Balão Mágico’, ‘Trem da Alegria’, ‘Xuxa’, ‘Mara Maravilha’, ‘Sérgio Mallandro’ e grande elenco.
Com a impossibilidade de reproduzir o “zeitgeist” (espírito do tempo) dos 80’s, tudo lembrava uma festa a fantasia. Pensando que iria relembrar ‘Capital Inicial’, ‘RPM’, ‘Ultraje a Rigor’, ‘IRA!’, ‘Barão Vermelho’, ‘Legião Urbana’ etc, fui levado a uma armadilha onde meus ouvidos foram torturados por ‘Sidney Magal’, ‘Menudo’ e o fino do brega.
Os anos 80 foram resumidos a tudo o que evitávamos e desprezávamos, ou seja, músicas ruins, roupas espalhafatosas, cores chamativas e acessórios duvidosos como a pochete, enfim, um recorte caricatural.
Suprindo esse vazio existencial e acomodando marmanjos nesse edredom emocional, talvez, precisando quitar boletos atrasados, alguns ex-integrantes do grupinho ‘Balão Mágico’ arrecadaram alguns reais saudosistas; e a duplinha Sandy & Junior, mesmo sem precisar, supriu a nostalgia noventista. Aliás, falando em anos 90, seria patético voltar a vestir camisa de flanela (“grunge”) no nosso clima tropical.
Pior do que terminar a noite chorando no meio-fio ou no canto do banheiro, em posição fetal, é lamentar: eu era feliz e não sabia...