A Velhice

Na penumbra tranquila do quarto envelhecido pelo tempo, onde a luz suave dança timidamente pelas cortinas que se movem ao sabor da brisa, encontro-me mergulhada em lembranças que desfilam diante de meus olhos cansados, mas ainda ávidos por enxergar o mundo com clareza. As rugas que sulcam meu rosto contam histórias gravadas com a tinta invisível das lágrimas e dos sorrisos que a vida me ofereceu.

A velhice, essa ilustre presença que se faz notar a cada passo mais lento, a cada fio de cabelo prateado que desafia a cor do tempo, é minha companheira fiel nesta jornada rumo ao horizonte da vida. Juntos, eu e ela, caminhamos por estradas já percorridas tantas vezes, revendo momentos de alegria e tristeza, de desafios e superações, de amores que se foram e de outros que permanecem, imutáveis no meu coração.

A caneta que sustento com mãos trêmulas sobre o papel amarelado não titubeia, pois é o elo que me conecta com o mundo que ainda pulsa lá fora. Nas palavras que brotam da ponta da minha pena, vejo refletido o reflexo de uma vida inteira, marcada por cada escolha, por cada sonho realizado ou adiado, por cada arrependimento que se transformou em lição.

Escrever, para mim, é mais do que um desejo, é uma necessidade vital. É o ato de traduzir em letras e frases as emoções que habitam meu ser, é a forma de eternizar os momentos fugazes que compõem o tecido da existência. A cada palavra que arranco do silêncio da memória, sinto-me mais viva, mais presente, mais consciente de que a passagem dos anos não é senão uma transição para uma nova forma de ser.

E assim, enquanto minhas mãos ainda puderem segurar a caneta com firmeza e minha mente ainda for capaz de articular pensamentos e ideias, continuarei a escrever. Pois é na escrita que encontro a magia de transformar o efêmero em eterno, o comum em extraordinário, o simples em sublime. E quando, enfim, o último capítulo desta longa história for escrito, deixarei para trás não apenas palavras, mas um legado de experiências, aprendizados e sentimentos que ecoarão pelas páginas do tempo, como um testemunho de que, sim, minha vida valeu a pena.

Vera Salbego