Foi Assim
Foi assim que a lua nasceu, que o sol se pôs, que o cavalo correu. Um relâmpago no céu, um trovão inesperado: foi assim que choveu.
Foi assim que a margarida floresceu, que o orvalho escorreu e o pássaro cantou. Um cor de rosa tênue sob as nuvens, um arco-íris depois da chuva, um namoro às escuras. Foi assim que o padre abençoou.
Um bombom com recheio de caramelo, outro com pedacinhos de amendoim. Foi assim que o amigo conquistou. Um beijo roubado, um abraço apertado: foi assim que a promessa firmou. Um contrato para a vida toda, uma dívida de brincadeira, um sentimento de verdade: foi assim que durou.
Foi assim que a guerra começou: um hiato entre esse e aquele. Foi assim que ela acabou: um ditongo entre aquele e esse. Foi assim que ele foi embora, que ela chorou, que a outra se perdeu. Um triângulo com mais de três linhas, uma matemática imprecisa, uma literatura obscura. Foi assim que a pergunta surgiu, que a exclamação saiu, que a poesia rimou.
Caiu. Foi assim que a lágrima apareceu. Depois de um tombo, depois de um não, depois de um sim. Sabão. Foi assim que a bolha existiu. Estourou. Foi assim que a brincadeira acabou.
Amarelo, vermelho, marrom. Figurinha, chiclete, bombom. Boneca, casinha, tudo de brincadeirinha. Foi assim que a realidade se montou. Papais Noel, Coelhinho da Páscoa, Don Juan. Foi assim que a menina virou mulher. Foi assim que a vida mais uma etapa pulou.