Último domingo de verão
Ontem, dia 17 de março, o dia anterior ao que escrevo esse texto, foi o último domingo de verão do ano de 2024. E a verdade é que não me dei conta disso, no correr das horas deste dia. Por toda parte era possível ouvir reclamações sobre o forte calor. Temperaturas absurdas como a sensação térmica de 60 graus no Rio de Janeiro. Não por toda cidade, mas precisamente nas regiões mais periféricas. E em São Paulo, a terra da garoa, também experimentou um pouco dessas temperaturas. Muitas vezes tiradas de letra em regiões mais quentes do país como a cidade vizinha, porém, bem raras por aqui. O que vem gerando uma onda de reclamações. Seja na feira, onde muitas pessoas paravam para pedir uma água de coco e enchiam sacolas e carrinhos com frutas e verduras frescas. Vi também pessoas murmurando nas ruas e nos noticiários e nas redes sociais não se fala em outra coisa.
Eu mesma, carioca recém moradora de São Paulo que até poucos dias debochava as escondidas do que imaginei ser um drama Paulista, visto que 30 e poucos graus sempre foi uma temperatura normal em meus dias de Rio, me peguei afirmando coisas do tipo: agora sim está quente, hoje sim tá calor, nossa que calor! E por aí vai.
Porém, como mencionei no início deste texto, não me dei conta do último domingo de verão do ano e que isto também é poesia. Somos muitas vezes sentenciados a acreditar que todos os dias são iguais. Que os domingos por preceder as segundas, são sempre melancólicos e cinzas. E que após as 18h tudo é tédio. Quantas vezes deixei passar por descuido rituais de passagem do tempo como este? Fico pensando quantas pessoas mais viveram sem se dar conta deste fato. O último domingo de verão do ano, que para muitos pode ser o último da vida e para outros o primeiro.
Não que este dia tenha passado em branco, fui em um parque perto da minha casa levar minha cachorra para passear, e vi pessoas fazendo diversas atividades e famílias inteiras chegando preparadas para passar o dia, fui a feira, ao mercado, preparei um delicioso macarrão com queijo e presunto, bebi umas cervejinhas, ouvi música, mais precisamente neste dia, me foquei em Chico Buarque, de uma forma mais intensa, revisitando alguns álbuns e canções, como alguns meses não fazia e ainda trabalhei de forma home office de 13h às 22h. E agora descrevendo cada detalhe, me espanto com quanta coisa pode ser feita em 24h. Como também tem dias que nada é feito e tudo bem. Só respirar, não fazer mal a ninguém e sobreviver a mais um domingo de verão está bom demais.
Mas decidi, que a partir de agora, para além de viver cada dia, quero celebrar todos os inícios e fins possíveis.