Gerações

A vó arrumou o coquinho, pequeno coque que costumava arranjar mais na parte de trás da cabeça, chamou o marido para acompanhá-la no corte do bolo, ele que não era dado a essas coisas, preferia ficar lendo o seu jornal, juntou filhos e netos e anunciou:

– Vamos servir o bolo!

A filha conduziu os parabéns, as crianças procuraram acompanhar, um instante em que a cantoria e as palmas quebraram – um pouco – as formalidades da casa, onde sombras pareciam habitar.

Décadas depois, foi a vez da sua mãe. O pai havia morrido meses antes, a mãe não queria festa – nem haveria – mas aceitou que se reunissem na data. Preparou uns salgadinhos, comprou uns docinhos e comemorou, ela também, os seus sessenta anos. As sessenta velinhas aglomeravam-se sobre o bolo, iluminando o cair da noite.

Chegou a sua vez. Um novo bolo com duas velas grandes: 6 e 0. Não fez convites, a filha virá acompanhá-la, os dois guris estarão a postos, examinando tudo, um pedindo pão de queijo, o outro ocupado com seus jogos no celular.

Lastima que o filho esteja, no momento, do outro lado do mundo, mas não pode se queixar, sabe que está bem. Caminha pelo apartamento, preparando-se para o encontro. Uma amiga muito querida aparece, sairão à noite. Tudo está pronto, toca o telefone.

– É o teu celular!

Levanta-se e recebe o carinho do filho, a partir do Japão.