SALAS FORNOS...

Talvez o leitor nunca tenha ouvido falar de uma "Salas fornos", certamente que não tenha ideia do que seja isso. No entanto, se você, caríssimo leitor, for morador da cidade de Alumínio ou cidades circunvizinhas, certamente saberá do que se trata uma "salas fornos", com cubas eletrolíticas de redução de óxido produzindo alumínio líquido, talvez até tenha trabalhado em uma.

Acontece que, em todos esses anos escrevendo crônicas eu nunca falei nada a respeito, indiretamente sim, esbarrei no assunto algumas vezes. O que eu não fiz ainda foi tratar de uma (particularidade) tão importante da empresa, portanto, permitam que eu fale um pouco do assunto, dessa, ilustre "personagem da CBA ", que é as "salas fornos", se é que posso chamá-la assim.

A Companhia Brasileira de Alumínio, CBA, quando se trata de um sistema integrado, ou seja, onde todas as partes do processo acontecem no mesmo local, é considerada a maior empresa da América latina na produção de alumínio. Resumidamente, todo o processo tem início com a chegada da Bauxita, matéria prima do alumínio ( olhando-a, trata-se apenas de terra vermelha), pois é ali que se esconde o precioso metal. Essa terra passará por um processo complexo na refinaria da Alumina, onde a "terra vermelha", por assim dizer, se transformará em óxido de Alumínio, um pó branco parecendo farinha de trigo, com a diferença de ter uma granulação maior. Esse (pó branco) passará por outro processo dentro da fábrica, e é aqui que nossa "ilustre personagem" entra em cena, as salas fornos, é nela que se fará a redução do óxido transformando-o em metal líquido dentro das cubas eletrolítica.

Dadas essas explicações básicas e grosseiras, volto ao início, aqui devo explicar o que me motivou a escrever sobre o assunto.

Essa semana, quando então estava a caminho do carteiro avançado da terceirizada onde trabalho ( terceira atuando dentro da CBA ), passei ao lado de uma dessas "salas fornos" , porém, desativada, uma das mais antigas, talvez com mais de sessenta anos. Antigamente essa sala era conhecida como ( 64 K.A ) com fornos em série funcionando a sessenta e quatro mil Kiloamper de energia. Perdoe-me se os termos estiverem incorretos, mas, é qualquer coisa por aí. Na época em que eu fazia parte do quadro da empresa, reformei muitos fornos nessa sala. Eles eram menores comparados aos demais existentes em outras salas, com fornos maiores funcionando a (127 K.A), com uma produção bem maior.

Na época o meu trabalho era fazer a reforma das cubas, ou, bacias, como é conhecida, removendo o revestimento refratário danificado e trocando por outros novos. Hoje, o que existe no local é o esqueleto do que um dia foi a sala 64 K.A, restou as colunas de concreto onde as cubas eram apoiadas. Parece mais uma sala fantasma, silenciosa, reduto de aranhas, escorpiões, pombos e outras aves. Quem naquela época imaginaria tal coisa, era um pensamento inconcebível para todos nós. Vê-la assim, completamente abandonada, traz ao coração um sentimento estranho de profunda tristeza. Quantas histórias se escondem nessas colunas de concreto, nesse pedaço abandonado, histórias tristes, alegres, enfim... Partes do primeiro prédio da 64 K.A foram modificadas para expansão da fábrica da Alumina, no entanto, os outros dois prédios continuam isolados, restando apenas histórias esquecidas, vidas que foram vividas nesse pedaço de concreto e aço. Parte da minha própria história se esconde em algum lugar nessa silenciosa sala abandonada.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 17/03/2024
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