A Revolução Musical dos Beatles: Um Legado de Contestação e Amor
Em uma época onde os eletrizantes riffs de guitarra se misturavam com letras que falavam de revolução, as noites em clubes eram embaladas pela poesia musical de quatro jovens de Liverpool. Os Beatles, com suas belas harmonias vocais, ofereciam ao mundo canções de amor que fugiam do piegas, marcando uma era de ouro da música popular que parecia pulsar com a promessa de mudança.
Diante de tanta criatividade e rebelião, por que, então, a música popular de hoje parece apenas reforçar a ordem social vigente, direcionando sujeitos acríticos a consumirem canções de meros casos de paixonites, enquanto espaços para a crítica e a inovação se estreitam? As canções que hoje fazem corpos balançarem parecem padronizar gostos, direcionando o consumo fácil, sem deixar espaço para a contestação ou o sonho.
Nos anos 60, os Beatles não apenas reinventaram a forma de fazer música, com seus experimentos de estúdio, uso inovador de instrumentos e técnicas de gravação, mas também tocaram o coração e a mente de uma geração com suas mensagens. A canção "Revolution", por exemplo, refletia o espírito contestador da época, enquanto "All You Need is Love" se tornava um mantra de paz e esperança no mundo marcado por guerras. Eles falavam de amor, sim, mas de um sentimento que era capaz de transformar o mundo.
O lado político da banda também não pode ser ignorado. Embora nem sempre fossem explicitamente políticos em suas músicas, os ingleses eram influentes em movimentos contra a guerra e a favor dos direitos civis. Eles utilizaram sua popularidade para expressar suas opiniões, como quando John Lennon promoveu o famoso "Bed-In for Peace".
O que tornava os Beatles revolucionários não era apenas sua música, mas como eles refletiam e influenciavam as mudanças sociais e culturais de sua época. Eles exploraram a psicodelia, abraçaram a espiritualidade oriental, questionaram autoridades e desafiaram as expectativas sobre o que a música pop poderia ser.
Hoje, parece que estamos carentes de uma arte que desafie, que critique, que proponha algo novo. A arte contestadora e criativa dos Beatles nos faz falta. Em meio a este deserto de inovação, pratico, por vezes, a necrofilia da arte, revivendo os dias em que um John contestador e revolucionário, um Paul sonhador e romântico, um George transcendental, e até mesmo um Ringo com seu carisma único, desafiavam o mundo a sonhar e a mudar. Estamos carentes de uma arte inovadora. Neste deserto carente de genialidade pratico a necrofilia da arte: ao invés de ouvir os cantores e bandas do momento, revivo sensações ao revisitar a velha discografia dos rapazes de Liverpool.
25.03.2021