Metamorfose
Educadora por formação, entrou na sala de aula decidida a não permitir que as coisas se repetissem, como na aula anterior. Desta vez, não aceitaria aquele estado de coisas. Estava convicta de que disciplina é componente indispensável ao sucesso de uma aula de qualidade.
Mais uma vez, encontrou a classe em alvoroço.
Não acederia a tamanho impropério – já havia decidido.
_ Marquinhos – disse – isso são modos de se assentar!?
_ Paula – continuou – silêncio, por favor!
A turma parecia não ouvir. Se ouvia, fazia que não.
O alarido persistia. Ruído de vozes, de gritos; verdadeiro falatório; misto de algazarra e gritaria.
Com muito custo, conseguiu um instante de silêncio. Aproveitou para ler o sermão. Precisavam entender, de uma vez por todas, que sala de aula é lugar de estudo, de reflexão e de discussões, sim, mas sobre assuntos do currículo. Não podiam – ela não iria, mesmo, permitir – transformar a sala de aula em ponto de encontro, lugar de fofocas, conversas paralelas, enfim.
Acertado o assunto, começou, firme, a lançar-lhes as lições. Falava, falava e falava.
Mas, nada; o hiato se rompeu, uma vez mais o silêncio foi quebrado.
Suas palavras pareciam não chegar ao destino – a conversa continuava, agora sob a forma de sussurros, gracejos, risos e mímicas. Verdadeira pantomima!
Viu-se na iminência de devolver o insulto. Resistiu!
Parou de falar; encarou a turma com olhar de piedade. Ainda tinha paciência. Não desanimaria; afinal, a aula devia continuar.
Sabia, em seu íntimo, que não desempenhavam papel condizente.
Via o que seus olhos não enxergavam. Sabia o que precisavam saber. Na verdade, sabia que nada sabiam e, por isso mesmo, tinha de continuar.
Paradoxalmente, o descaso dos discentes fez crescer nela o desejo de ensinar.
Por um instante, refletiu sobre suas próprias práticas: havia preparado a aula; o assunto era interessante e, sobretudo, importante; o conteúdo era acessível; ela mesma fazia de tudo para ser simpática, tinha sempre a preocupação de contribuir, de forma positiva, para o crescimento pessoal de cada aluno. A empatia era seu ponto forte, mas nem assim ...
Certamente, o problema haveria de estar com eles, os alunos. Precisavam mudar a própria postura ... tinham de ouvir, participar, enfim, precisavam despertar ...
Insistiu. Mais uma vez, sem sucesso, tentou.
Olhou-os nos olhos – sorriam, tolos.
Respirou fundo, engoliu seco, e recomeçou.
Não desistiria – pensou. Um dia, cresceriam e, educadora convicta, gostaria de estar por perto, a fim de presenciar a metamorfose.
Afinal, eram alunos de um curso superior.