Entre Sem Bater - Não se Encaixa

Steven Pinker disse:

"... a teoria de que a religião é uma força para a paz não se encaixa nos fatos de sua história ..."(1)

Até mesmo para um pesquisador de renome como Pinker, misturar algumas editorias traz uma complexidade adicional. Entretanto, o mundo de absurdos que estamos vivenciando, suas observações dão validade para expressões populares. Ele na frase-chave, quando se referiu a "não se encaixa", certamente, colocou à mostra a sua fina educação ante aos que preferem a guerra.

NÃO SE ENCAIXA

A frase de Steven Pinker, um especialista em eufemismo e insinuações torna-se uma verdade, que precisa de reconhecimento dos farsantes. Os farsantes assumiram pontos de convencimento nas redes sociais e estão fora de controle. Destarte, não é preciso fazer nenhuma análise de conjuntura(2) para ver que nenhuma religião, na história, brigou pela paz. As guerras religiosas(*) sempre foram para que uma religião imponha seus dogmas e crenças sobre outra, sem piedade.

Nesse ínterim, para que não pairem dúvidas sobre o "não se encaixa" de Pinker, reproduzimos algumas expressões tupiniquins.

"Essa história não bate."

"Isso não faz sentido algum."

"Seu argumento não tem lógica."

"Essa história não tá com cheiro." (típica de partes do Nordeste)

"Isso tá esquisito."

"Tá estranho essa história."

"Não aguenta cinco minutos de auditoria independente."

É provável que cada leitor encontre uma outra que sirva para reforçar o argumento de Pinker para algo que não cheira bem.

GUERRAS RELIGIOSAS

Desde que o homem deixou o politeísmo e impôs aos povos seu monoteísmo de estimação, a humanidade corre atrás de um ideal utópico de paz. Com toda a certeza, ancora-se em valores e crenças que, paradoxalmente, deram origem aos conflitos religiosos devastadores. A ideia de que a coisa não se encaixa está exposta de maneira vívida e real ainda hoje.

Contudo, não apenas as guerras religiosas são motivo para os conflitos, uma miríade de outros propósitos, que jamais objetivam a paz. Um exemplo emblemático dessa contradição é a conturbada relação entre os seguidores do islamismo e do judaísmo na "Terra Santa".

ISLAMISMO x JUDAÍSMO

Podemos afirmar, inquestionavelmente, que uma das guerras mais surreais ocorre atualmente na Faixa de Gaza. Como se não bastasse brigarem na "Terra Santa", as diferentes correntes das duas religiões ganham a adesão de parte dos cristãos..

Surpreendentemente, numa postagem recente numa rede social, um cristão evangélico neopentecostal publicou:

- "Deus odeia olhares altivos e nunca falha em abaixá-los".

Como assim, cara-pálida? Não importa qual o deus de de alguma religião, pregar o ódio, praticar o ódio?

Se não é o fim do mundo, o apocalipse ainda vai demorar.

Assim sendo, é irrefutável que ao longo da história, as religiões fazem a formação de identidades coletivas e moldagem de sistemas de valores. No entanto, a interpretação desses valores usa da manipulação de massas  para justificar a violência, como nos conflitos entre muçulmanos e judeus.

Da mesma forma que estes insanos falam que "deus odeia", não se encaixa um rabino judeu dizer: "... matem todos, até as crianças ...".

TERRA SANTA

O local sagrado que é a "Terra Santa", palco de eventos cruciais para ambas as religiões, deveria, em teoria, ser um farol de paz. Contudo, a realidade é uma tapeçaria intrincada de tensões, conflitos e episódios de violência. Sem dúvida, a noção de que a religião é intrinsecamente pacífica não se encaixa na realidade e na história.

A história da "Terra Santa" é palco de uma série de conflitos que não podem ter o reducionismo de uma mera discordância teológica. Refletem, portanto, as disputas políticas, territoriais, étnicas e porque não dizer, econômicas. As guerras entre israelenses e palestinos, a partir de diferenças religiosas, são uma luta pela posse da terra e autonomia política. Assim sendo, a complexidade das motivações por trás dos conflitos, ilustra o uso das religiões para interesses terrenos.

A "Terra Santa", enfim, é o palco principal de muitas guerras. Inegavelmente, com a presença de muito ódio, que não está em nenhum dos livros sagrados deles. Como resultado, temos a perfeita destruição da verdade(3) e imposição de dogmas, crenças e mitos.

MUNDO MODERNO

Como se não bastasse uma grande guerra religiosa, as redes sociais emergiram como um palco para conflitos e polarização. Sem nenhuma base religiosa explícita, ideologias, polarizações políticas e extremismos aparecem do nada em postagens absurdas. A ascensão das chamadas "guerras culturais" online evidencia como as diferenças de opinião se tornam férteis para surgirem hostilidades virtuais. Surpreendentemente, o conhecimento e a sabedoria, que poderiam promover a paz, cederam espaço para a intolerância e o ódio.

Desta forma, as redes sociais, pretensamente plataformas de conexão humana, se transformam em campos de batalha ideológica. As disputas sobre vários temas, desde política eleitoral até questões sociais, geram embates ferozes, contrários à ideia de tolerância. Por isso, os espaços digitais, onde o diálogo e a compreensão mútua deveriam prosperar, tornaram-se campos de guerra. As maluquices que proliferam nas redes sociais são sintomas de um fenômeno mais amplo. Decerto, neste mundo moderno(4), a instrumentalização da comunicação para fomentar conflitos e consolidar poder está ganhando de goleada.

AMBIGUIDADES

A partir do descontrole das redes sociais, as ambiguidades passam ao largo da capacidade de reflexão das pessoas. Os grupos e espaços digitais, principalmente as plataformas temáticas, não passam de espaço para promoção e mobilização de pessoas.

Além disso, a história da humanidade em inúmeras guerras que, embora não ostentam um caráter explicitamente religioso, não possuem atividades pacíficas. Conflitos por recursos naturais, território e poder geopolítico surgem sob o pretexto da segurança nacional ou interesse econômico. A busca do poder, da hegemonia e do controle sobre o adversário é a força motriz por trás de muitos conflitos. Desse modo, revela-se que a paz é um efeito colateral e secundário, em nome de objetivos mais seculares.

Estas ambiguidades permanecem, ganharam as redes sociais e fazem parte de sociedades que, à rigor, não têm nenhuma relação com o conflito.

REDES SOCIAIS

As maluquices nas redes sociais são apenas uma manifestação contemporânea dessa propensão humana para a contenda. Brasileiros, por exemplo, ignoram conflitos, a pobreza e as injustiças no próprio país, para palpitarem sobre o que não sabem de outros povos.

Enfim, enquanto conflitos cuja motivação são interesses terrenos, qualquer possibilidade de paz, inexiste. O desafio persistente é, portanto, transcender as divisões e intolerância, reconhecendo que a paz exige mais do que meras declarações de intenção. Contudo, reflexões sobre as complexidades subjacentes que perpetuam os conflitos em todas as suas formas passam longe das redes sociais.

Em suma, até na paz ou na guerra, os canais que deveriam promover o conhecimento e a sabedoria estão se perdendo.

Nada se encaixa !

"Amanhã tem mais" ...

P. S.

(*) As guerras religiosas e os discursos de cristãos, especialmente neopentecostais, nas redes sociais, não tem sustentação racional.

(1) "Entre Sem Bater - Steven Pinker - Não se encaixa" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/03/12/entre-sem-bater-steven-pinker-nao-se-encaixa/

(2) "Entre Sem bater - Betinho - Análise de Conjuntura" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/01/12/entre-sem-bater-betinho-analise-de-conjuntura/

(3) "Entre Sem Bater - Bill Clinton - Destruição da Verdade" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/01/13/entre-sem-bater-bill-clinton-a-destruicao-da-verdade/

(4) "Entre Sem Bater - G K Chesterton - Mundo Moderno" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/01/16/entre-sem-bater-g-k-chesterton-mundo-moderno/