Dois funerais e muitas risadas
As histórias que acontecem em funerais são, invariavelmente, interessantes. Afinal, ninguém se dignaria a comentar um funeral onde nada de diferente acontecesse. Ninguém chega em casa após um sepultamento e diz:_ Foi tudo muito tranqüilo no enterro de fulano, nada de importante aconteceu._ A gente chega e procura esquecer onde esteve. Agora se alguém resolve contar é bom parar e ouvir, pois, de certo, algo inusitado deve ter ocorrido.
Eu já sabia disso, mas foi ouvindo esses dois “causos”, que tive plena certeza; As histórias de funerais são imperdíveis!
Quem narrou foi uma colega e ela jura que é verdade, mas que parece invenção lá isso parece. Tive dificuldade em escolher com qual começar, os dois são ótimos. Então decidi seguir a ordem que ela contou.
Houve o sepultamento de um grande irmão da igreja evangélica que ela freqüenta. Homem muito querido por todos. Sobravam suspiros e lágrimas. Desespero não, pois tal comportamento não é muito dos evangélicos. Muitos amigos, palavras de consolo e a certeza de que o sermão do querido pastor faria juz a dor de todos.
O pastor era daqueles homens inflamados, enfáticos, coléricos até. Todos aguardavam o momento em que ele, certamente, colocaria em palavras toda a tristeza e o sentimento que estava dentro de cada presente. Ao aproximar-se o momento de baixar o caixão, ele se colocou sobre um monte de terra à beira do túmulo, já que dali podia ver e ser visto por todos. Não é muito alto o pastor. Tomou a palavra e começou a falar sobre as muitas qualidades do falecido. Falou de seu intenso trabalho pela igreja, destacou o bom marido e o pai exemplar que partia. Foi, como de costume, se acendendo, empolgando, foi ficando cada vez mais eufórico. Leu diversos trechos do Livro Sagrado traçando paralelos com as histórias da vida do morto. Animava-se mais e mais e, em dado momento, no auge de uma de suas melhores pregações, bateu forte na Bíblia que trazia nas mãos. Nesse exato momento a terra sob seus pés cedeu. Ele escorregou e caiu dentro do túmulo, sobre o caixão e em cima dele rolou uma grande avalanche de terra. Com a ajuda dos presentes ele se levantou muito desconcertado, batia de leve pelo corpo retirando a terra e dizia num sorriso amarelo: _ A gente se empolga, né? _ A Bíblia desapareceu de suas mãos por algum tempo, mas um irmão, mais gaiato, ainda teve picardia para gritar:_ Alguém salve a Palavra que ficou lá embaixo! _ Alguém retirou a Bíblia do túmulo e o enterro finalmente foi concluído, mas a essa altura, a tristeza tinha dado lugar a uma divertida sensação.
A segunda história que ela contou bem poderia inspirar um filme de terror, ou ainda uma comédia rasgada.
O falecido tinha partido pouco depois de uma refeição farta, estava meio estufado. O velório estava cheio mesmo não sendo de dia. Muitos amigos tinham resolvido passar a noite com a família, pois a segurança nos cemitérios anda beirando a nulidade. A viúva estava inconsolável à beira do caixão, chorando copiosamente. Abraçava o corpo e, a cada amigo que se aproximava, tinha aqueles momentos de desespero tão comuns a quem perde um grande amor. Já tarde da noite, havia ainda muitas pessoas ao redor do falecido, consolando a família. Aconteceu, então um fenômeno que, apesar de raro existe. Quando o sujeito morre muito cheio de gases, e esse definitivamente, era o caso, pode acontecer de expelir esses gases mesmo depois de morto. Pois é, o falecido, ao ser abraçado mais uma vez pela esposa, deu um profundo suspiro, ou algo que se pareceu muito com um suspiro. A correria foi geral, uma quase multidão debandou da capela, deixando apenas a mulher a sacudir o marido, dizendo: _ Acorda, homem, levanta!
Em qual delas o riso foi maior? Não sei, mas que ri abeça, isso eu ri.