Ah! Se eu fosse você!
Ah! Se eu fosse você?
Você já ouviu isto, eu já, muitas vezes, inclusive hoje.
Esta é uma das argumentações tipo, se eu tivesse 20 anos, com a mentalidade de hoje, aos 50, 60, 70 anos, eu seria diferente!
A tudo isto é possível responder, sem medo de errar: se eu fosse você, sem dúvidas, eu seria você, então estaria, existencialmente, fazendo as mesmas coisas que você. Se, ainda se, fosse possível voltar aos 20 anos, eu, ou quem conseguisse tal façanha, ainda que com 50, 60, 70, ao chegar lá, teria 20 anos e seria tal qual o adolescente de 20 anos e faria as mesmas proezas dos 20 anos.
Tem alguns momentos em que é possível transgredir a linearidade da existência: na tenra infância, o bico é tal qual o seio materno, mais à frente, o cabo de vassoura se transforma num cavalo branco e guerreamos com monstros descabidos, e à noite é possível ser visitado por seres supranaturais, mas pouco a pouco deixamos de acreditar em lobisomens e papai noel.
Nos sonhos, também, é momento propício para se vivenciar as possibilidades ilimitadas da capacidade alucinatória da mente humana, sem riscos, e você pode ser o que a sua mente desejar que você seja, até o limite de acordar.
A ficção é outra alternativa para a mente realizar os seus impulsos de maneira segura e muitas vezes economicamente salutar. Então, segundo cada dom, alucine contos pornográficos, idílicos, violentos... sem limite.
Ah! Resta ainda, uma outra opção para a existência humana, em que a linearidade do existir pode ser rompida e a mente transitar entre as várias dimensões existenciais, quase que livremente, como se só ela existisse e tudo fosse em função dela, e não que ela fosse coparticipante de um universo: a loucura. Nós sabemos como esta liberalidade costuma terminar: Sanatório, Cadeia, Cemitério!
Esta história se fosse eu, se tivesse tantos anos menos, se estivesse no seu lugar, é mera barela, artíficio defensivo contra as contrariedades da existência humana. O caminho para o fim do ciclo linear da existência, mesmo que em processo, quando bem sucedido, na velhice, é a solidão e a morte...