Tarefa especial
Esta manhã será dedicada a uma busca especial. Ando, desde ontem, às 11h40 exatamente, à procura do controle remoto da tevê. Já procurei embaixo da cama, dentro da geladeira, num amontoado de livros usados, no ventre de um par de meias sujas, nas prateleiras da despensa, e inclusive no lugar mais óbvio: entre as almofadas do sofá da sala de não estar. Mas nem sinal do famigerado. Estou pensando seriamente em ligar para o 193, para ver se conseguem me auxiliar nas buscas.
É impressionante que, estando no século 21, tenha que me envolver em uma atividade que, há muito, já deveria estar em desuso. Na era do PIX, da hegemonia da Inteligência Artificial, dos carros autônomos, do armazenamento em nuvem, dos pagamentos por QR Code, da assistência médica online, dos sensores de movimento, da realidade Aumentada (AR), das escovas de dentes elétrica com música integrada, dos copos Stanley, é inadmissível as tevês, pelos menos as convencionais, ainda necessitarem de controle remoto físico.
No meu caso em particular, o caso tem contorno cômico, para não dizer trágico. Estou habituado a ligar a televisão por intermédio do controle remoto. É a única maneira que utilizo e que conhecia para pô-la em funcionamento. Mas há outras maneiras mais modernas, como descobri, ao consultar alguns tutoriais no YouTube. À maneira de exemplo, posso baixar um programa que irá se encarregar da tarefa ou, ainda, recorrer ao modo tradicional: isto é, apertar o botão "Ligar" do aparelho.
Assustadoramente, a teve aqui de casa, apesar de necessitar de controle remoto, é uma Smart (como são chamadas hoje as televisões convencionais de antigamente), e acontece que esse botão "Ligar" desconheço por completo. Nas televisões tubo de antigamente, ele vinha exposto, visível, ostensivo; nas de hoje em dia, é minúsculo, quase imperceptível sem a ajuda do Manual do Usuário. E quem, hoje em dia, conserva em meio físico Manual do Usuário?
Mas nem tudo está perdido: ainda bem que, hoje em dia, temos a internet, onde não apenas podemos encontrar o manual que quisermos, mais também baixar programas que tornam controles remotos desnecessários. A parte lamentável é que, com toda essa potência digital dos dias de hoje, não descobrimos ainda um remédio definitivo para a calvície nem a explicação completa do fenômeno Natasha.