I love tu, ventilador canalha
Vamos partir de um princípio básico: ninguém compra ventilador numa cidade de clima fresco.
Repare: a quantidade de ventiladores presentes em Gramado é a mesma de um bairro qualquer do Rio de Janeiro. Acabei de ver no Google: neste momento, lá em Gramado, o clima está na casa dos 19°C. Aqui, onde estou, num bairro simpático da zona norte carioca, o termômetro acusa 30°C. Qual é a chance de encontrar um ventilador ligado a essa hora em Gramado? Zero, o mesmo número registrado no inverno daquelas bandas. Por outro lado, do lado de cá, a chance de encontrar um ventilador ligado beira os 150%.
Dizer que faz calor no Rio é o mesmo que afirmar categoricamente que a Telefunken deixou de fabricar televisores há pelo menos vinte anos ou que os produtos da Yopa perderam o sabor (até porque faz tempo que a marca foi pro beleléu). Todo mundo sabe disso.
Portanto, me sinto no direito de fazer uma pergunta que até hoje ninguém teve coragem de responder: por que os ventiladores de chão giram de um lado para o outro?
Imagine a cena: quatro pessoas estão na sala assistindo TV. Uma está no sofá à esquerda, duas no sofá maior e uma deitada no chão no lado direito do cômodo. Considerando que essa família só tem um ar condicionado em casa, no quarto, a única opção para aguentar o calor é o ventilador.
Só que o objeto perde o objetivo quando refresca o pobre coitado da esquerda durante dois segundos enquanto refresca os demais membros por intermináveis dez segundos. O mesmo perrengue passa o cara do canto direito. Sofre menos quem está no meio da sala, pois essa pessoa consegue a sobra do ventinho que circula nos cantos da sala.
Um ventilador que gira é tão útil quanto um freezer para um esquimó, avião para nuvem, eletricidade para vagalume, shampoo para barata, cacto para abelha, carro de rolimã para múmia e churrasqueira próxima de um vulcão em erupção.
Além de semi-ventilar, a coisa torra a paciência de qualquer cidadão de bem. É um troço tão errado, tão ruim, tão inconstitucionalissimamente incorreto que merecia ser desinventado.
Ou dado para aquela pessoa tão agradável quanto pedra no sapato, bem perto daquele calo que escala nossa dor e cala nossa calma.