Ninguém é perfeito para ninguém. (Maria Mal-Amada)

Ninguém é perfeito para ninguém.

Crónica extraída do livro Maria Mal-Amada

de Lorena de Macedo

Você camufla seus defeitos mais grotescos na esperança de que ela não irá notar. Disfarça, finge que acha graça das piadas para que ele não pense que lhe falta senso - de - humor. Enquanto um faz pose de galã, o outro mede as palavras cuidadosamente para deixar a melhor impressão.

No primeiro encontro, a gentileza marca pontos no placar. Ela usa sutiã de enchimento e lentes de contato azuis. Você esconde opiniões contrárias, concordando com tudo o que ele fala. Ela sorri, mostrando os dentes recém-clareados, trabalho da melhor amiga que é dentista.

O menor vislumbre de que aquela possa ser a pessoa certa, o cara perfeito, a mulher ideal, provoca uma coceirinha atrás da orelha e o famoso frio na barriga. Pronto! Você caiu mais uma vez no conto do vigário ao acreditar que existe essa tal de perfeição.

Mas o convívio e a intimidade chegarão para estragar a festa, e com o passar do tempo você perceberá que talvez ele não seja assim tão gentil. Descobrirá que ela nunca gostou de nenhuma das suas piadas, nem mesmo daquela em que você acreditava ser impossível não gostar. Então você se entregará ao inevitável sofrimento daqueles que buscam no outro a cura para os próprios defeitos.

Esqueça esse negócio de perfeição, por que afinal de contas, você também não é perfeito para ninguém. Se parar de se lamentar, amaldiçoando a si mesmo por ter vislumbrado seu futuro com alguém que rói as unhas, poderá se dar conta de que talvez ele seja o cara ideal, a mulher certa para alguém como você.

Ele nunca mais te levou para jantar naquele restaurante em que se encontraram pela primeira vez, mas prepara um sanduíche todo especial sempre que você chega tarde do trabalho. Ela não gosta das mesmas músicas que você, critica seus gostos e preferências, mas te deu de presente no natal passado aquela coletânea de CDs que tanto queria, mesmo sabendo que será obrigada a ouvi-los com você.

Imagine uma balança. Uma balança construída para pesar os prós e contras de uma relação. Use-a com honestidade e perceberá que você também faz tipo. Também se mostra melhor do que realmente é.

Então se quiser que dê certo, procure compensar aquilo que lhe desagrada com ações positivas fazendo com que a balança penda para o melhor a lado.

Por que buscar no outro aquilo que não podemos dar? Aquilo que nunca seremos? Nunca seremos perfeitos, mas por alguns momentos, quando o outro ainda não nos conhece realmente, usamos de todo o nosso talento teatral para mascarar o que achamos que deva ficar escondido.

Hábitos, gostos, preferências, opiniões, diversidade. A graça está na diferença ,e a perfeição está na constante troca que leva à evolução.