TRÊS APARIÇÕES
Sempre fui muito cética. Na verdade, o ceticismo era minha forma de não me assustar tanto. O medo do fantástico e do irreal perseguem-me desde que era criança, quando no Carnaval entrei em colapso ao ver um homem fantasiado de macaco urrando nas ruas. Minha mãe pediu ao homem que tirasse a máscara para eu ver que se tratava de uma pessoa. Até hoje, máscaras deixam-me nervosa, motivo pelo qual não sou fã do Carnaval. Acredito que ser cética, a negação, foi meu melhor mecanismo de defesa para isso.
Em minha vida, tive atitudes corajosas. Já matei uma cobra, nunca tive medo de sapos ou bichos asquerosos, tive coragem de começar uma vida com poucos recursos, mas não me peça para encarar o escuro por muito tempo. Acredito em Nietzsche quando diz que o abismo nos encara de volta. Embora pareça corajosa, confesso ser medrosa por coisas bobas.
O que vou contar-lhes agora não foi fruto de minha imaginação, são fatos que realmente aconteceram. Meu pai é alcóolatra, até o momento em que morávamos com ele (minhas irmãs e eu), víamos e sentíamos coisas estranhas, não sei se pela situação psicologicamente perturbadora que vivíamos com ele. Só sei que as coisas que vi permanecem vivas em mim e causam até hoje um certo respeito e temor.
Nos meses que moramos com meu pai, vivíamos um terror todas as noites. Ele chegava bêbado e fazia o maior escândalo, já sabíamos a hora que ia começar, então nos trancávamos no quarto antes. Era uma tortura psicológica, com porradas nas paredes, luzes desligadas, gritos e coisas sendo jogadas ao chão. Com o tempo, passei a ver coisas estranhas na casa.
A primeira aparição vi quando eu conversava com minha irmã mais nova e notei algo parado atrás da porta da sala. Olhei fixamente por uns três segundos e pude ver na penumbra um homem, todo vestido de preto, com as mãos cruzadas na frente e a cabeça torta para um lado, como se tentasse entender o que eu falava. Ele parecia um segurança, alto, forte e um olhar penetrante que não me permitia desviar o olhar. Quando finalmente consegui fechar os olhos e cobrir o rosto com aos mãos, comecei a tremer e falei para minha irmã o que tinha visto, ao que ela disse não ter ninguém na casa exceto nós duas.
A segunda apareceu quando estava sentada na cadeira da cozinha, de onde tinha uma visão do corredor e do espelho da sala. Vi pelo espelho um velho negro sem camisa, vestido com um short branco encardido, sentado na beira da cama de meu pai com a costa curvada. Ele pareceu não se importar comigo olhando fixamente seu reflexo no espelho, parecia esperar algo, talvez um grito de minha parte.
Na terceira vez, cheguei em casa, vi uma moça correndo em direção a cozinha, fui atrás pensando tratar-se da minha irmã, mas não havia ninguém. Minha irmã estava deitada no quarto com o cachorro. Essa aparição específica não me causou medo, a impressão que tive foi que ela estava brincando de se esconder. Ainda assim, sinto um arrepio toda vez que lembro dessas coisas que vi e que até hoje permanecem sem explicação. Recordo que o que me mantinha morando naquela casa era pensar que, apesar de tudo, nunca vi nada estranho dentro do quarto, nosso refúgio, só na sala e pelo corredor, geralmente onde meu pai ficava.
Parei de ver essas coisas quando saí da casa. Foi uma saída difícil, debaixo de gritos e ameaças, mas conseguimos. Todos que ouvem essas histórias de aparições dizem que eu devia estar mentalmente perturbada ou que meu pai estava com energia pesada atraindo essas coisas, mas até hoje não tenho explicação plausível. Escrevo aqui apenas para eternizar essas lembranças, afinal, "há mais mistérios entre o céu e a terra do que a vã filosofia dos homens possa imaginar."