O público imaginário

Pode me ouvir se eu tocar violão? Todo mundo tem na alma um público imaginário. Amadoramente mesmo. Pode me ouvir agora se eu tocar violão? Você que me lê agora pode me ouvir? Tudo bem. Minha página fácil virtual será assim: um microfone com ligação direta. Liga e desliga. Equaliza tira ruído e suaviza e você ouve e me vê. Opções na tela de legenda e cifra. Amadoramente tocando sozinho para vocês. Lá no canto o vídeo. Aquela televisãozinha onde você me vê. Para você escrever sobre a canção que acabou de ouvir ao vivo. Tocando para o mundo da rede. Quem desejar ouvir que ouça. Interpretação em casa. Vamos para frente do micro e então o show musical. Oleai! Olará! Depois sai do ar. Quem grava vê de novo.

É a nova alegria das pessoas que estão em casa. Uma folha fácil virtual com televisãozinha e microfone ligado. A folha como recurso prático e gráfico. Única e só para tocar e todo mundo poder ouvir. Finalidade: cantores, artistas do som. O fato é que você aperta e logo começa a gravar e começa a cantar e a tocar (nem sempre na mesma ordem) como um astro. Transmitindo e entrando no ar de modo simplificado. Já existe? Você pode me ouvir agora? Se alguém no mundo ouviu e gostou poderá aplaudir como sincero agradecimento. São idéias e poderão melhorar o aspecto relacional da humanidade através da brincadeira sonora: brincando de astro! Você é o astro! Pode ouvir se eu tocar agora? Se tocar agora? Você pode ouvir? Quer tocar agora? Se eu tocar agora você pode ouvir?

Paro de escrever estas palavras e em tempo real você escuta. Ouça agora a canção. Dê nota e faça parte do júri virtual. Ganhe prêmios.

E para você quem não escuta venha ler-ver as lindas letras sonoras das legendas. Há canção na letra. Na letra está a canção em onda da imagem batida como um tac-tac-tum para ler-ver. Claro que você sabe como isso se faz. Tem que ser do seu modo. Estou escrevendo e vou cantar e tocar essa canção inesquecível. Você pode me ouvir se eu tocar agora?

- Como se faz?

Você poderá escolher os níveis de ataque a sensibilidade pelo provedor: um legal. Dois: tópico obrigatório para silêncio. Ruim. Tudo o que desejamos é tocar a lira e puxar assunto ao vivo. Gênero? Nenhum. Musiquei versos de poetas desconhecidos da Semana Moderna de 22 e foi só. Versos musicados. Para cantar mais e receber novas interpretações sobre o mesmo tema dos novos músicos e conjuntos que brincando giram em torno da melodia. Amadoramente. Outros farão o mesmo. Como assim? Do mundo inteiro as janelas se abrem. Será emocionante em casa.

A canção livre receberá contagem. Marcação de audiência. Você escolhe o seu tipo de astro desconhecido pela foto. Válido para máscaras. Você poderá se vestir com roupa exótica para cantar suas canções. A técnica abriga programação para audição pública. Para público desconhecido imaginário e conectado. Botam máscara e aparecem na telinha de repente dizendo: gostei, mande ver! Ou ainda: falta afinação, mas ficará boa com ela. O público imaginário. Se ninguém sabe por que algumas notas, voz, melodia provocam aquela adorável hipnose. O fato é que alguém há de gostar. Em casa você se sentirá com as pessoas na sala diante da tela. Quem quiser ouvir o avatar. Amadoramente mesmo.

- Guardei essa de ouvido. (Interpretação livre)

- Fui eu quem fiz. (Foi você mesmo? Eu não tenho nada com isso.)

- Assobio no pente. (Casa com gênero batucado).

- Ficaria melhor cantar com fiapo de jaca no dente. (Pilhéria).

- O melhor da gravação caseira.

Ou ainda: Passei cantando baixinho a tarde inteira e é por isso que você não escutou. Turno da noite: dobrando os sinos da noite de verão. Tocar e compor. Brincar com a tal da canção. Guarde esses versos de amor e chuva para efeito de telhado. Aquele lado poético. Natural e sub desafinado. E daí? Super desafinado. Você pode me ouvir agora?