Promessas

Promessas. Quando a gente é criança, faz um monte delas de olhos fechados. Na maioria das vezes é por algo em troca, um doce, um sorvete, um passeio no parque, um brinquedo. O que não é nada plausível, diga-se de passagem, porém a imaturidade nos absolve de qualquer crime.

Quando a gente cresce, talvez por passarmos a entender a seriedade de uma promessa, não a fazemos com tanta displicência, em troca de algo (exceto os pidões de plantão). E talvez por isso também nunca a fazemos: não nos responsabilizamos, não nos envolvemos por medo de não conseguirmos cumprir o prometido e sermos julgados por um tribunal imaginário: anjos e demônios nos avaliando com os dedos apontados, talvez pendurados no teto de casa ou sentados na janela da sala, mas em ambas as situações, balançando as perninhas. É até divertido imaginar. Mas o que não percebemos, muitas vezes, é que prometemos sem de fato prometermos. É praticamente um “não coloque palavras na minha boca”, eu sei, mas sorry, sinto informar que não falamos apenas com palavras. Os linguistas de plantão que me perdoem.

Uma promessa de verdade se faz de dentro para fora. É muda, silenciosa, instantânea, mas eloquente. Uma mãe promete ao filho amor eterno quando o amamenta pela primeira vez, quando o busca na escola e o abraça, depois de um dia comprido, não pela extensão das horas, mas pela ausência de quem se ama.

Um pai promete compreensão por toda a vida quando não grita, não repreende, não aponta o dedo: conversa, pergunta, se interessa em saber o porque da briga na escola. E mostra o caminho a ser escolhido quando enxerga que errado foi o filho, pois entende que os filhos também são feitos de emoção, e emoção muitas vezes nos leva a errar.

Um animal de estimação promete companheirismo quando abana o rabo ao chegarmos em casa toda noite na mesma hora, e fidelidade quando saímos todas as manhãs, também na mesma hora, e com o seu focinho por debaixo do portão, nos segue com o olhar, até desaparecermos pela rua afora.

Um amigo promete gostar de você até que a morte os separe (afinal amizade também é um casamento) quando a cerveja chega à mesa e as risadas saem numa frequência similar, num sentimento similar, numa diferença similar, porque é isso que os amigos são, diferentes nas similaridades. E não há desavenças que rompam isso, não há rompimento que apague, não há esquecimento que não ressuscite. Amizade é a promessa mais sincera de que o “pra sempre”, neste caso, nunca acaba.

Um motorista de táxi ou de ônibus promete nos levar em segurança aonde queremos quando damos o sinal e ele para. Um cientista promete revolução às nossas crenças quando entra num foguete e parte para o universo afora. Um médico promete crença à nossa rebeldia quando determina que uma doença é incurável. E nós prometemos a nós mesmos uma vida mais sincera quando sentimos medo.

A vida acontece através de promessas. Ditas ou não ditas, elas existem o tempo todo. E nós passamos a não existir sem elas, pois são as promessas que escrevem a nossa história, são as promessas que revelam quem somos, são as promessas que ditam as regras. Deixar de fazê-las com palavras não é deixar de fazê-las. Mas deixar de percebê-las sim, é tornar o coração e a mente analfabetos.

CamilaCamellini
Enviado por CamilaCamellini em 06/03/2024
Reeditado em 21/03/2024
Código do texto: T8013638
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