VAI BATER ÁGUA
"Vai Bater Água"
(Vento Lusitano)
É bem cedo, logo ouço o canto da saracura do banhado. Ao ouvi-la meu instinto induz meu olhar ao horizonte, lá nas lonjuras, onde minha visão mal alcança. Logo vejo o tempo se arrepiar, não demora não tem mais céu azul, as nuvens escuras e pesadas tomam seu lugar. Um vento norte chega forte e decisivo. Claro não resta dúvidas, é uma assertiva, nós aqui do sul é que bem sabemos, a saracura cantou logo cedo, ela nunca erra, vai bater água.
Decorrido alguns minutos não é mais o caminhante, não é mais o boi que levanta a poeira da estrada, mas as grandes gotas de chuvas que batem forte a terra. Logo não tem mais poeira, a terra está encharcada, o caminhante, o boi, marca a passada. A água excedente forma corrente cortando o capim a caminho do ribeirão. Em pouco tempo, tal como veio, as nuvens escuras se despedem, dando lugar ao céu azul, o sol irradia sua energia é sinal que será um bom dia.
A natureza realmente é perfeita, o outono está chegando, representa a transição entre o verão e o inverno. Por isso, ele apresenta características que se assemelham ao verão e ao inverno. Aqui no sul já é perceptível alguma mudança de temperatura e na umidade do ar.
Penso que tanto a natureza como nossa vida é submetida às transições. Nós também temos em nossas vidas nuvens escuras, ventos fortes e poeiras de estrada para enfrentar, mas tal qual a intempérie tudo passa, pois também recebemos nossos ventos, nossas chuvas de esperança e de fé para tudo varrer, limpar, apagar as marcas da poeira da estrada daquilo que não nos fez bem. A verdade é que às transições que ocorrem tanto na natureza como em nossas vidas, nada mais é do que o tempo batendo à porta. Afinal, com bem ensinava cantando o saudoso Gonzaguinha: “é a vida, é bonita e é bonita”.