O SONHADOR LITERÁRIO

O sonho dourado de ser um escritor e produzir romances, contos, poesias e crônicas sempre esteve no horizonte de minhas noites. Nasceu comigo esse desejo ansioso, veio das entranhas do tempo e impregnou-se no ventre materno fecundado pelo amor romântico de meu pai. Penso que tal anseio literário originou-se do dedilhar afinado do violão nas noites em que papai reunia os amigos e acompanhava a si mesmo cantando músicas de Nelson Gonçalves. Conquistou mamãe com a maestria dessa arte maviosa, a única que dominava. Ele tocava com a mão esquerda, e como admiravelmente tocava! O artista do violão gerou um sonhador das letras.

Em busca da realização desses devaneios beletristas, ainda menino ingênuo, eu lia tudo e qualquer texto, não portava quais, bastava ter palavras formando frases e parágrafos para me atrair, e da mesma forma escrevia a inocência dos primeiros pensamentos e expressava a infantilidade da cândida imaginação. Nesse diapasão delirante, anelando algo não tão fácil num universo de tantos escritores talentosos, deixava que o delírio do querer me antecipasse vislumbres futuros dos livros de minha autoria sorrindo para os leitores nas vitrines e estantes das livrarias. Eu mesmo coloria minhas utopias, coisas de criança.

Os estudos, a batalha diuturna pela sobrevivência, as primeiras namoradas, as barreiras postas no caminho pela vida e pelos homens, o casamento, os filhos, nada enfim me abalava os próprios desígnios. Ser escritor estava intrinsecamente, umbilicalmente eu diria, ligado ao meu ser. No entanto, do sonho à realidade, do ter vontade e conseguir, ou não, sempre houve e haverá grandes distâncias. Publiquei algumas obras desconhecidas, escrevi em jornais de minha cidade, rabisquei informações históricas para relatar a derrota do bando dos cangaceiros de Lampião pelos conterrâneos mossoroenses, recebi ótimas críticas e maravilhosas resenhas sobre meus trabalhos, mas infelizmente ainda não logrei realizar a obra definitiva do romance que sempre quis escrever. Talvez ainda dê tempo, não sei. O amanhã pertence a Deus.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 03/03/2024
Código do texto: T8011928
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