O bom senso, depois dos 100 anos
Quem recebeu o título de “mais velho do mundo” contou poucos dias de vida, depois desse reconhecimento. Tais idades variaram de 115 a 117 anos. De vários países: Polônia, Áustria, Itália, Espanha, México, Estados Unidos, Índia, China e sobretudo Japão, deconheço alguém do Brasil, povo que gosta de comer muita carne... É no Japão, onde viveu maior parte desses longevos, sendo na sua grande maioria mulheres. A mulher, segundo os entendidos e graças a Deus, tende a viver mais, cerca de sete anos, do que o homem. Nessa história, até agora, ninguém ultrapassou a idade da francesa Jeanne Calment, que faleceu, em 4 de agosto de 1977, aos 122 anos e 164 dias.
Segundo os experts, os humanos teriam o limite promissor de vida até os 150 anos; outros descordam, presumindo que, um dia, numa moderada alimentação, com precisos remédios e sofisticada saúde preventiva, maior número de pessoas atingirá seus 130 anos. Conversando com Bernardo Boris Vargaftig, cientista de reputação em alergia celular e inflamação pulmonar, pesquisador do Institut Pasteur e ex-professor da USP, perguntei de que então morreríamos, ao que respondeu: “De marasmo e atonia”. Em outras palavras: De enjoo e tédio de viver, numa profunda depressão por não ter mais nada a fazer; sem suficiente força ou de energia; e também sem alguma novidade na vida, mesmo que surjam novas invenções, não haverá graça, como tudo já se tivesse sido visto, tal seria a abundância da experiência...
Sempre vi na Filosofia, o bom senso também como conhecimento vulgar, daquilo que se aprende pela experiência de vida: o fogo que queima pela primeira vez ou o choque elétrico que estremece o corpo. Importante dizer que o conhecimento científico se fundamenta nesse conhecimento vulgar, chamado bom senso, feito a maçã que caiu na cabeça de Newton... A verdade não se desgasta com o avanço da idade, mas o bom senso ou a experiência cresce quantitativamente, e qualitativamente amadurece, ao passarmos pelas etapas da vida; e em cada fase, uma renovada visão. De transparência, na infância; de arrebatamento, na juventude ; de prudência, na fase adulta; e, com o acúmulo de experiência, de sabedoria e apurado bom senso na ancianidade.
Mas, ao chegarmos a mais de 100 anos, justamente o bom senso, sem muito o que fazer, vai perdendo seu uso, sua utilização e, por conseguinte, sua importância. Mesmo valorizando a nossa infância, no velho de cem anos, vive-se o adulto que ele experimentou bem há pouco tempo; o jovem que ele foi há bem mais tempo; e, sem esquecer a memória, a criança que ele nunca deixou de ser. Ah! Como valorizamos tempos de criança, seja poetizando, seja cantando ou sorrindo, assim tais idos são um reconforto.
Somos o que construímos em cada um desses momentos da vida. Um desses tempos mal vivido atrapalhará a faixa etária seguinte e acumulará males, no final da existência. A criança, que não cresceu e não se desenvolveu bem na juventude, comportar-se-á, sem retorno, infantilmente na vida adulta... Daí, a importância da educação que lhe será dada pelos pais, ensinando-lhe a se desenvolver, crescer, andar e caminhar com os próprios pés. Caso contrário, ocorrerão tropeços, de tal modo, a serem insuportáveis, sobretudo na idade idosa. Que o idoso compreenda e valorize as paixões da juventude, para superar eventuais tristezas ou frustrações. E também o adulto, que não der importância a tais ideais de jovem, comprometerá tristemente o tempo que lhe resta.
Ao se chegar no topo dessas idades, o bom senso ainda encontrará, no idoso, a síntese de tudo que ele viveu, nas suas diversas faixas etárias. Ou seja, a verdade de si mesmo, que, se feliz e longeva, será um fim de amor e bom humor. Pois, nascemos criança e morremos criança...