A Inveja
Um bom parâmetro para medir a realidade em relação a estar ou não melhor que antes, em ser ou não mais feliz hoje que ontem, é saber o quanto de alegria e satisfação cada momento feliz ou bom lhe proporcionou. Todas a decepções, por maiores que sejam, não se equiparam ao ganho de alegria e felicidade ainda que de pequenos momentos. E quais são esses momentos? Cada um tem em seu mais íntimo pensamento. Apenas para ilustrar, o nascimento de um filho, a conquista de um amor verdadeiro, o retorno de algo tão esperado, o órgão transplantado dando sobrevida suficiente para ver crescerem filhos e netos, ou, a simples vaga num concurso público que vem dar estabilidade ainda que mediana e simplória, mas sem mais depender da mendicância. Todas a perdas na vida, sendo elas, frutos de tentativas para sermos melhores e mais felizes, são processos de crescimento, nunca perdas. Imagine que, um casal ao tentar a gravidez tão desejada o façam por anos testes e inseminações, de modo que quando essa gravidez se torna realidade e os primeiros gritos são ouvidos no parto, será que eles estão pensando no montante que gastaram, nas idas e vindas em clínicas para exames e mais exames, no tempo de espera nas salas dos consultórios, nas noites sem dormir esperando ansiosamente pelos resultados? Todo o processo valeu a pena, isso é o que conta. Vivemos num universo com milhões de outras galáxias, e, até onde sabemos, somente este pequeno planeta é habitado e tem vida em abundância, só por isso já deveríamos estar felizes, só por sermos privilegiados a tal merecimento. Perguntaram-me em uma tarde durante um momento de descontração e lazer num café, você acha que estamos melhores que antes, em relação à vida? Minha resposta foi, basta olhar para os lados; ver quem caminha conosco, ver onde o outro está, onde ele vai ao anoitecer, se os caminhos e o local forem diferentes, analisemos as condições. Meu jardim é mais verde, está resguardado por um muro e um portão, talvez dois portões, o de pessoas e o da garagem, o que significa que tenho um veículo a disposição. O aluguel está em dia, quem sabe até mais que isso, a casa está quitada, a vizinhança é boa, colaborativa, na mesa se repetem as três refeições diárias sem maiores contratempos. Por este pequeno e simplório exemplo, e, guardando as devidas proporções daqueles que desfrutam de tanto mais que tornam o exemplo ainda mais simplório, pode-se viver uma vida inteira em plena felicidade e harmonia, porém, ainda podemos continuar a buscar melhorar e aumentar o padrão, basta manter os pés no chão e dar um passo de cada vez e em segurança. Nada errado em ter o melhor. Errado é querer tem mais quando se tem o suficiente. Errado é querer ter mais para querer ser o que os outros tem e são. Seja o que é e outros quererão ser o que você se tornou. O que me tornou o que sou hoje é resultado das inúmeras tentativas frustradas ou não de minhas próprias escolhas, mas quando olho para os lados e não vejo aqueles que começaram comigo a caminhada, seja porque estão ainda no começo ou porque já não estão mais na caminhada, não posso olhar para a frente e pensar em querer alcançar aqueles que por seus méritos e escolhas estão muito melhores que eu, isso é buscar um modelo alheio, deu certo para o outro, necessariamente pode não dar certo para mim, a insistência nesse processo de querer ser e ter o que o vizinho tem pode estar camuflado e o nome para isso é inveja. A inveja só é boa quando vem para melhorar aquilo que já possuímos, ou que esteja ao nosso alcance sem perder a noção de suficiência.