Entre Sem Bater - O Compartilhamento

Leonardo Nimoy disse:

"... o milagre é esse. Quando mais compartilhamos... mais teremos... e você e eu aprendemos ..."(1)

A vida de Leonard Nimoy e o personagem de ficção Dr. Spock parecem ser a mesma coisa. É impossível separar um do outro, enquanto viveram. É provável que tenha sido um dos personagens mais longevos do mundo da vida que imita a arte. Desse modo, faz-se necessário uma frase do verdadeiro Nimoy, sobre compartilhamento, para trazer um pouco de realidade para o mundo dos estultos.

O COMPARTILHAMENTO

Em primeiro lugar, antes da abordagem seguindo a ideia de Nimoy, um conceito e definição.

(com·par·ti·lha·men·to)

Substantivo Masculino. Ação ou efeito de compartilhar, de partilhar, de dividir, de repartir a mesma coisa; divisão,

comunhão, partilha. Ação de partilhar algo com alguém: compartilhamento de benefícios.

Relaciona-se com palavras como: compartilhável, companheira, aquinhoar, associar, compartilhar, compartir,

descompartilhar, partilhar, compartilhador, compartilhação e outras.

Fonte: Dicionários Dicio e Priberam online

Após lermos alguns absurdos, como a ideia de descompartilhar, entendemos as dificuldades da maioria das pessoas para entender o que é compartilhamento. Assim sendo, a grande luta que se apresenta nas redes sociais é demonstrar que o que fazem hoje, contradiz o que pensou Nimoy.

Reproduzir mentiras ou versões, de certa forma atende à ideia da definição e conceituação geral do termo compartilhamento. Contudo, é exatamente a antítese da ideia central de Nimoy que falava do milagre de compartilhar e elevar o conhecimento(1) das partes. A ideia central é esta, compartilhando algo, crescemos em todos os sentidos e aprendemos mais.

Enfim, na ficção científica que viveu, o Dr. Spock defendia o compartilhamento, entretanto nossa realidade caminha no sentido contrário. Perdemos !

OBSCURANTISMO E FALÁCIAS

Compartilhamento, no contexto do mundo digital, deveria ser uma ação que transcenda uma mera troca de informações. Entretanto, apresenta-se como uma ação moldando a percepção de mundo das pessoas. Desse modo, influencia, sobretudo, crenças e dogmas, e em última instância, define o que consideramos verdade(2).

A ideia de que “quanto mais compartilhamos, você e eu aprendemos e crescemos” tem a ideia de positividade e colaboração. Este pensamento é a origem, por exemplo, das comunidades de software livre e aberto. A proposta de que ninguém deveria ter o conhecimento para si, e avançamos compartilhando o conhecimento, parece estar em desuso.

Infelizmente, a visão otimista nem sempre se aplica às plataformas digitais e aplicativos e compartilhar informação tomou o caminho inverso.

Vivemos em uma era em que a informação flui rapidamente, nas redes sociais, nos blogs e aplicativos de mensagens de troca de mensagens. No entanto, essa abundância de dados não garante que estejamos compartilhando conhecimento ou que nossas opiniões sejam úteis. Pelo contrário, o compartilhamento sem limites e sem controle se transforma em uma verdadeira fonte de obscurantismo, ignorância e falácias.

OBSCURANTISMO: A NÉVOA DIGITAL

O obscurantismo ocorre quando a informação sofre distorções e manipulações ou deliberadamente fica em segredo ou com restrições. Nas plataformas digitais, isso se manifesta de várias maneiras:

• Algoritmos Seletivos: As redes sociais e os aplicativos de notícias utilizam algoritmos para personalizar nosso feed de conteúdo. No entanto, esses algoritmos frequentemente nos aprisionam em bolhas de informação, mostrando apenas aquilo que já concordamos. Isso cria um ambiente onde a verdade tem filtros e obscurece-se em função de um algoritmo e da manipulação.

• Desinformação Viral: Mensagens sensacionalistas, teorias da conspiração e notícias falsas se espalham como fogo nas redes sociais. O compartilhamento rápido e impensado dessas informações obscurece a realidade e dificulta a distinção entre fatos e ficção.

• Opiniões de Segunda Mão: Quando compartilhamos apenas o que reforça nossas crenças, criamos um eco de opiniões. Isso leva ao obscurantismo, pois ignoramos perspectivas divergentes e nos isolamos em bolhas ideológicas.

IGNORÂNCIA: A ILUSÂO DA INFORMAÇÂO

O compartilhamento constante de notícias e opiniões nos faz sentir informados, mas essa sensação muitas vezes é uma ilusão. A ignorância se esconde por trás da aparência de conhecimento:

• Superficialidade: Compartilhamos manchetes sem ler os artigos completos. Isso nos torna ignorantes sobre os detalhes e nuances das questões.

• Viés de Confirmação: Buscamos informações que confirmem nossas crenças existentes. O compartilhamento de conteúdo que se alinha com nossos preconceitos nos mantém na ignorância.

• Apelo à Autoridade: Compartilhamos posts de pessoas que parecem especialistas, mas muitas vezes não têm credenciais reais. Isso perpetua a ignorância, pois confundimos popularidade e muita informação com conhecimento.

FALÁCIAS: A ARMADILHA DO COMPARTILHAMENTO RÁPIDO

As redes sociais incentivam o compartilhamento rápido e impulsivo. Nesse processo, muitas falácias se espalham e até viram "verdade":

• Apelo à Emoção: Compartilhamos histórias emocionantes sem verificar sua veracidade. Essas narrativas apelam para nossos sentimentos, mas podem ser completamente falsas.

• Correntes e Cadeias: Mensagens que pedem para "compartilhem para o bem” muitas vezes são falácias e contém informações para manipulação de mentes. A pressão social leva incautos e néscios a compartilhar sem questionar.

• Simplificação Excessiva: Compartilhamos gráficos e memes que simplificam questões complexas. Essa simplificação excessiva leva a conclusões errôneas e falaciosas.

FIM DO MUNDO

Enfim, até a teoria do fim do mundo tornou-se banal.

Li, com estarrecimento e tristeza infinita, um texto de um conhecido, que tinha o meu respeito.

"... nenhuma gota quente ainda caiu, mas a chuva de fogo está vindo. Nenhum vento terrível uivou ao seu redor, mas a tempestade de Deus está reunindo sua artilharia ameaçadora ..."

E a insanidade segue em outros trechos e outros perfis, tudo porque o mito que eles idolatram, não conseguiu ser reeleito. Como se não bastasse, estes que se dizem cristãos vão para a avenida passar vergonha(*). Respondam, sinceramente, quem substitui a "estrela de Davi",  da bandeira de Israel, pelo pentagrama do obscurantismo é gente?

Aqueles que têm a coragem de ler este texto poderiam, em sua infinita paciência, tentar resgatar alguns seres humanos desta "Caverna de Platão"(3). Não é admissível que o compartilhamento de ideias provoque este estado de estupor e catatonismo.

Em suma, o compartilhamento de ideias nas plataformas digitais é uma faca de dois gumes, pois muita coisa não são ideias, são crendices. Podemos aprender e crescer, mas também podemos nos afundar na obscuridade, ignorância e falácias. A responsabilidade está em nossas mãos: devemos ser críticos, verificar fontes e compartilhar com discernimento.

Amanhã tem mais ..."

P. S.

(*) Certamente, se você defende este povo que troca a Estrela de Davi por pentagrama deveria compartilhar conhecimento e não defender ignorantes. Repito, descompartilhar é uma coisa que não existe, em todos os sentidos e conceituações, é sem retorno.

(1) "Entre sem bater - Leonard Nimoy - O Compartilhamento" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/02/28/entre-sem-bater-leonard-nimoy-o-compartilhamento/

(2) "Entre sem bater - John Locke - O Conhecimento" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/10/11/entre-sem-bater-john-locke-o-conhecimento/

(3) "Entre sem bater - Bertolt Brecht - A Verdade" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/02/06/entre-sem-bater-bertolt-brecht-a-verdade/

(4) "O mito da caverna e os irmãos lobo" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2016/12/14/o-mito-da-caverna-e-os-irmaos-lobo/