Entre sem bater - Holocausto Brasileiro
Daniela Arbex disse:
"... A culpa? A culpa é coletiva, é de todos nós, de toda a sociedade, porque todo mundo participou disso ..."(1)
Daniela Arbex, assim como outros heróis da resistência, retratou em livro e filme, a realidade deste país. Em holocausto brasileiro, que 99% dos que atualmente falam do holocausto na Faixa de Gaza não viram ou leram, o Brasil fica exposto. Certamente, as pessoas já têm opinião, mesmo de segunda mão(*), para falar do assunto, mas este texto é um alerta que contém um desafio.
HOLOCAUSTO BRASILEIRO
O livro "Holocausto Brasileiro", que teve uma sequência com o filme homônimo, é apenas um documentário. Não tem a opinião das pessoas, tem o relato do que muitas delas viveram e ainda vivem. Certamente, todos os depoimentos constantes do livro e do filme são a mais dura e cruel expressão da nossa realidade.
Desse modo, é profundamente triste quando vemos manifestações políticas, e até de especialistas no tema sobre sofrimento e dor, falarem em público. Neste momento, o que mais motivou este tema na série "Entre sem bater" são as manifestações em resposta ao que acontece na Faixa de Gaza.
É holocausto sim, aceitem e não passem recibo para estultos e venais que não sabem o que é a história dos massacres em massa.
Estima-se que entre 25 mil e 40 mil pessoas morreram ou vão morrer na guerra entre palestinos e israelenses. Entre ambas as partes existem dissidências e, infelizmente, dogmas radicais religiosos optaram pela matança. Do mesmo modo, o holocausto brasileiro dizimou mais do que o dobro dos que já morreram no conflito em pauta.
CAMPO DE CONCENTRAÇÃO
Holocausto brasileiro diz respeito às condições que muitos conacionais viveram na cidade de Barbacena. Quando eu era criança era comum ouvir que Barbacena era a "cidade dos loucos", e aquilo transformou-se numa coisa que a sociedade aceitou. É provável que "a cidade das rosas" ainda tenha como referência o que viveu por décadas.
Os depoimentos de quem vivia na cidade e trabalhava no "hospital colônia" e pavilhões são aterrorizantes. Eu diria que relatar aqui os depoimentos é completamente inútil e pouco pedagógico. Sugerir que as pessoas leiam o livro, em tempos de redes sociais e textos de 280 caracteres é semear na seca.
Franco Basaglia, especialista psiquiátrico italiano disse:
“Para mim, quer estejamos falando de psicólogo ou de esquizofrênico,
de maníaco ou de psiquiatra, é a mesma coisa:
são tantas funções dentro de um hospital psiquiátrico
que não sabemos mais quem está saudável ou doente.”
Como se não bastasse, em visita ao complexo psiquiátrico em Barbacena, pouco antes de falecer, afirmou que aquilo lá era um campo de concentração. Desse modo, nada mais convincente do que um italiano que viveu a intensidade da 2a. Grande Guerra para classificar o nosso holocausto brasileiro.
E, infelizmente, até os profissionais que Basaglia se refere estão atualmente se aliando às hordas de déspotas que falam de algum holocausto.
Vejam o filme, pode ser pedagógico para a formação desta nova sociedade digital que produz pessoas doentes.
TODO MUNDO
O filme contém inúmeras frases impactantes que, analogamente, podem ter uma repetição por todo mundo(1), nos grupos e nas redes sociais.
Uma frase chama a atenção para um posicionamento do que vem adiante, do que estamos construindo.
"Enquanto o silêncio acobertar a indiferença, a sociedade continuará avançando em direção ao passado de barbárie. É
tempo de escrever uma nova história e de mudar o final."
Dona Ivone Lara, sambista-enfermeira, quando falou sobre o pranto(2), tinha muita experiência junto ao trabalho de Nise da Silveira. As condições que os funcionários do hospital-colônia relatam, são cruéis e de muita gente ruim.
A responsabilidade é de todos nós, enquanto sociedade que apodreceu e que abusa da hipocrisia nas redes sociais.
Ver documentos que davam preços para partes dos corpos humanos que morriam naquela cidade, é pior do que o holocausto judeu. E, surpreendentemente, ainda existem pessoas negacionistas que colocam em dúvida nosso holocausto brasileiro. É uma vergonha coletiva e que, como disse um dos declarantes no filme, responsabilidade do Estado e de todos os outros.
Assim sendo, é estarrecedor ver políticos, como o governador de Minas, que mal sabe quem é Adélia Prado, falar de holocausto.
CARTA ABERTA E DESAFIO
O governador reeleito pela maioria dos mineiros faz seu proselitismo e se posiciona contra o atual presidente em todos os assuntos. É um direito dele, mas este texto é para me posicionar sobre o que eu penso de um falsificador de passaporte que se acha inteligente. Um mau caráter que disse que não apareceria em manifestações político-eleitorais e aparece defendendo golpista. Um sevandija que compra parlamentares para poder privatizar a CEMIG e a COPASA sem manifestação dos mineiros. Um entreguista que se alia aos piores políticos da história de Minas no Senado para fazer defesa dos antivacinas e negacionistas. Um salafrário que critica o presidente da república mas não tem a mínima ideia do holocausto brasileiro, em que ele se omite.
Governador, tenha coragem de ler o livro (sua cabeça vai doer pois ler não parece ser uma qualidade que você tem). Como se não bastasse, vou sugerir que você veja o filme, com legendas e alguém para te explicar o contexto. Após fazer Um destes dois atos, tenha coragem de falar sobre o holocausto brasileiros, que aconteceu em Minas Gerais. Seria interessante, por exemplo, ver você e seus eleitores-vassalos comentando nas redes sociais sobre o tema. Certamente, antes de falar sobre a guerra entre religiões que você não entende, deveria ler alguma coisa consistente. É provável que o seu adestramento tenha alguma serventia para você para de falar bobagem.
Feito o desafio, para o governador e os bajuladores e vassalos, inclusive políticos, voltemos ao holocausto brasileiro. Troquem um pouquinho da hipocrisia e falsidade inata de vocês, por algum resquício de dignidade, #FicaaDICA !
HORRORES CONTEMPORÂNEOS
Certamente, os horrores dos internos do Hospital Colônia de Barbacena, que ocorreu durante décadas, não se repetem da mesma forma. Contudo, essa história ilustra um holocausto que muitas pessoas fazem questão de esquecer. O agravante é que a tragédia, no próprio solo brasileiro, não causa comoção como em outras nações. A história deveria provocar a reflexão sobre os diversos genocídios que persistem pelo mundo. Surpreendentemente, não desperta a indignação necessária das sociedades modernas, nem entre os brasileiros.
A verborragia de políticos, em ano eleitoral, faz sentido desde que seus eleitores são como os que falam em holocausto, terra plana, violência e armas.
A expressão "holocausto" remete tradicionalmente ao genocídio perpetrado durante a Segunda Guerra Mundial pelos nazistas. Contudo, sua aplicação não se limita àquele contexto específico. O termo refere-se como uma destruição em larga escala de um grupo humano, no caso do holocausto brasileiro de negros e pobres. Infelizmente, diversos episódios de genocídio ocorreram e ainda ocorrem, muitas vezes sem receber a atenção e repulsa global.
SOCIEDADES MODERNAS
Uma das razões para a falta de indignação em relação a certos genocídios reside na distância geográfica e cultural que separa as vítimas dos observadores. Sociedades modernas se tornam insensíveis às atrocidades que ocorrem longe de seus olhos, de acordo com os interesses políticos. Primordialmente, quando essas atrocidades envolvem povos menos representativos na mídia internacional, a indiferença aumenta. Esse distanciamento gera uma desconexão emocional que dificulta a mobilização e a solidariedade.
Além disso, questões políticas e econômicas também desempenham um papel significativo na inação diante de genocídios. Interesses geopolíticos, acordos comerciais e alianças estratégicas superam a responsabilidade moral de intervir em situações de extermínio em massa. Governos hesitam em condenar violações de direitos humanos por medo de prejudicar relações diplomáticas ou interesses econômicos.
MANIPULAÇÂO DE MASSAS
A desinformação e a manipulação da mídia também contribuem para a falta de conhecimento e sensibilização em relação a genocídios contemporâneos. Quando as atrocidades sofrem com a parcialidade dos meios de comunicação, o público em geral permanece ignorante ou indiferente. Assim sendo, perpetua-se a invisibilidade das vítimas, como aconteceu por décadas durante o holocausto brasileiro.
Diante desse cenário, reverter os mecanismos de manipulação, promovendo a conscientização e mobilização global é necessário. A sociedade civil, organizações não governamentais e indivíduos deveriam pressionar por justiça e responsabilização. Por outro lado, estes mesmos protagonistas deveriam condenar as ações maléficas e a desinformação que reinam nas redes sociais.
Além disso, governos e instituições internacionais devem priorizar a proteção dos direitos humanos e a vida, principalmente de mulheres e crianças. Por isso, urge agir em prol da prevenção e combate aos genocídios, independentemente de considerações políticas ou econômicas.
Enfim, o documentário "Holocausto Brasileiro" completa mais de 10 anos e deveria servir como um aviso doloroso e real. Com toda a certeza, este terror não é exclusivo e não foi um fenômeno restrito ao passado ou a outras regiões do mundo. A responsabilidade de combater tais atrocidades recai sobre todos nós, como cidadãos do mundo. As lições da história devem emergir e a indiferença sofre ataque de uma ação coletiva em prol da dignidade e da justiça.
Helvécio Ratón, numa abordagem em seu filme "Em nome da razão", com a mesma motivação de Daniela Arbex, disse:
"A dor, o sofrimento, a morte tem um cheiro ...", e o cheiro não é agradável e nem coisa de gente honesta.
Amanhã tem mais ..."
P. S.
(*) Com todo respeito a alguns profissionais da psiquiatria e psicologia, aqueles e aquelas dessas profissões, negacionistas, não são nem gente. Aos que se incomodam com o tom do texto, digo que ousar ser agressivo é necessário.
(1) "Entre sem bater - Daniela Arbex - Holocausto Brasileiro" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/02/26/entre-sem-bater-daniela-arbex-holocausto-brasileiro/
(2) "Entre sem bater - Constituição de Užupis - Todo Mundo" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/02/24/entre-sem-bater-constituicao-de-uzupis-todo-mundo/
(3) "Entre sem bater - Dona Ivone Lara - O Pranto" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/01/28/entre-sem-bater-dona-ivone-lara-o-pranto/