NÃO AO AUTORITARISMO!

JEJUM DE NOTÍCIAS

Nelson Marzullo Tangerini

Entrei, um dia desses, numa padaria de Piedade para comprar pães para o café da tarde e me surpreendi com a presença de um ex-amigo - de infância - que tornou-se um mínion fundamentalista, de quatro costados.

Cumprimentei-o, para não ser deselegante. Faz parte da educação. E ele foi logo me perguntando se eu sabia quem era o mandante do assassinato de Marielle e Anderson. Respondi que não sabia. E ele prosseguiu:

- Vocês não diziam que era o capitão?

- Eu disse isto? – retruquei.

E continuei:

- Você continua defendendo o golpista depois de tudo o que aconteceu no dia 8 de janeiro de 2023?

E ele continuou:

- Houve fraude na eleição de 2022, e era natural a invasão dos Três Poderes.

- Quebrar tudo é natural?

- O povo tem o direito de protestar. Faz parte da democracia: a liberdade de expressão.

- Quebrando tudo?

- Aqui, no Brasil, só um golpe militar para acabar com essa baderna.

- Que baderna? A baderna dos fascistas? Se a tentativa de golpe não é baderna, não sei o que pensar de você. Aliás, você lê os jornais ou assiste aos telejornais?

- Não leio mais jornais; não assisto mais aos telejornais. Estão todos a favor de Lula e contra o capitão. O Brasil vai virar uma Venezuela.

- Vou lhe pedir uma só coisa: não me interpele mais na rua, ou dentro de um estabelecimento comercial. Não vou mais perder meu tempo conversando com idiotas.

Peguei os pães, paguei à moça do caixa e voltei para casa.

Pelo que entendi, o amigo do passado é hoje um fascista declarado, defensor de um regime autoritário, de extermínio de índios, de queimadas e desmatamento.

O cidadão em questão vive com um salário mínimo e nem tem onde morar, vive sempre se mudando, o que me faz lembrar de uma frase corrente: “Os pobres que ainda defendem o ‘mito’ são como os cães que defendem o dono mas dormem fora da casa”.

Na semana seguinte, ouço outro discurso, na banca de um jornaleiro amigo, no Méier:

Estava com o amigo jornaleiro, quando um cidadão, saído do esgoto, puxou conversa e disse não confiar na imprensa e duvidar de todas as acusações contra seu ex-presidente.

Perguntei-lhe se lia jornais ou assistia aos telejornais. E ele disse que não, que a imprensa brasileira não era confiável, que perseguia o capitão.

- O senhor, então, só confia na Jovem Kan e nas fakenews - jocosamente respondi.

- A conclusão a que chegamos é que ou os minions são um bando de pessoas que se orgulham de sua burrice ou são mesmo fascistas de carteirinha, maldosos, dispostos a defender um regime autoritário e genocida.

Daí a alcunha de “Gabinete do ódio” para essa fábrica de malfeitores que diz representar “a propriedade, a pátria e a família”, jargão já usado por Benito Mussolini quando mergulhou a Itália no medievalismo obscuro e doentio.

Fica para outra crônica o discurso idêntico de uma caixa de um mercado hortifrutti, em favor do capitão.

Os fascistas não se curvam, diante de tantas provas. Quando essa pandemia de Covid 22 irá acabar? Eles defendem o “Estado antidemocrático da direita”, frase do jornalista Gilberto Menezes Côrtes, do Jornal do Brasil, frase que merece a nossa reflexão. Conviver com fascistas requer atenção redobrada.

Liberdade sempre!

...

Crônica dedicada ao jornalista Wladimir Herzog, assassinado pela ditadura.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 25/02/2024
Reeditado em 25/02/2024
Código do texto: T8007021
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