O MILAGRE (republicação)
Naquela tarde de julho, fria, ficara sem computador – a fonte havia queimado. Na verdade, ficara sem chão, sem energia, sem inspiração. Aborrecida, mal-humorada, chata, resolvi sair, ver o azul do céu, respirar o mundo real, deletar o vício cruel ! Andei por ruas solitárias, sem rumo, perdida em devaneios e deixei a luz do sol penetrar em meu coração. Mesmo assim, faltava alguma coisa. Rodei, rodei, feito barata tonta, feito mariposa ao redor da lâmpada. Resolvi então, entrar na viela que dava acesso ao Santuário Eucarístico que fica aos fundos do edifício onde resido. Lá, orei, falei com Deus, agradeci por estar em sua presença, e pela paz profunda que dEle emanava. Senti-me melhor. De alma lavada--restaurada!Ao sair, encontrei a irmã Cleuza, que ali estava cuidando do Centro Missionário. Ficamos horas e horas conversando, falando sobre a Bíblia. Contei-lhe que estava lendo o Êxodo, e que Moisés me emocionava, aliás, as coisas de Deus sempre emocionam... muitas vezes incompreensíveis à mente humana. Ela contou-me de sua experiência como missionária na África, com as crianças pobres, desnutridas, cadavéricas, mutiladas pela fome e pela guerra! Fiquei a pensar –(uma moça bonita, jovem, que arrisca sua própria vida para cuidar dos pobres...) quanta coragem, quanto despojamento, quanta abnegação! -- uma missão que herdara de sua fundadora, Madre LEÔNIA MÍLITO, que expandiu a congregação -- Missionárias de Santo Antônio Maria Claret – nascida aqui em minha cidade, Londrina, Norte do Paraná, Sul do Brasil, aos cinco Continentes. Sempre a cuidar dos pobres mais pobres, em asilos, orfanatos, creches, escolas e hospitais, antes de partir para a morada eterna, após sofrer um acidente automobilístico em 22 de julho de 1980 , e cujo processo de beatificação encontra-se em Roma já em fase de conclusão, pelos milagres que têm acontecido em todo Brasil por sua santa intercessão.
Contou-me que, certo dia, chegaram ali, vindos de São Paulo, dois empresários bem-sucedidos. Um deles, jovem ainda, aparentando uns trinta anos, elegante, bem-vestido, entrou gritando: -- é esta aí, é ela mesma, levando as mãos aos olhos, em pranto... A irmã recebeu-os com um carinhoso abraço, esperou passar a sua crise de emoção e, depois, ouviu pacientemente sua história. Tinha visto a reportagem sobre a futura Santa na televisão local, no quarto do hotel e, naquela mesma noite, sonhara com a Madre . Estava convicto: tinha sido agraciado com um milagre. -- no sonho, dizia, -- era ela - em carne/osso e hábito- que aparecera, prometendo-lhe a cura. A irmã os conduziu à Casa da Memória da Madre. Lá, outra crise, não conseguia conter as lágrimas que rolavam em profusão sobre seu rosto tão jovem, tão cheio de dor, mas explodindo em fé!
Confesso que fiquei impressionada, -- inebriada, coração liberto -- diante de tudo o que acabara de ouvir. Voltei para casa feliz: estava tão perto de uma santa!
Benvinda Palma , 13/08 / 2008