No Caminho da Escola II

 

São 6:00 horas,como de costume, Tigrão   ( o nosso ônibus escolar de cor amarela e preta) está pronto pra partir. O destino ?

 — uma Escola na zona rural.

 

Alguém lembra ao motorista das fortes chuvas ocorridas durante aquela madrugada, e o perigo de Tigrão não dar conta da travessia, considerando que grande parte do percurso se dá por estrada  terra batida".

 

O motorista não vê dificuldades e se gabando de ser um experiente domador de "tigres", liga o motor e seguimos viagem.

 

Acomodada à janela , observo maravilhada a conexão das forças da natureza . As águas ocuparam todo o leito do pequeno rio, que ontem agonizava sedento e seco, agora desce caudaloso e veloz. A vegetação, de banho tomado , agradece sorridente.

 

Chegamos em uma encruzilhada, agora seguiremos pela estrada de terra nua  e encharcada.

E começa nossa aventura...

Logo no primeiro trecho, altura do sítio dos Maias, encontramos o primeiro obstáculo. 

O nosso amigo motorista, o Sidinei , orienta os  passageiros — segurem firme aí,  e acelera.

Tigrão mais parece um touro em arena de rodeio. Rabichada pra esquerda, rabichada pra direita, entorta para um lado e pro outro, mais um solavanco e passou..

— A galera aplaude.

 

Mais adiante  avistamos alguém parado em meio a um atoleiro. O  nosso motorista desce pra socorrer, retira a moto pro lado da estrada e oferece uma carona.

Sidinei assume novamente as rédeas de Tigrão, está pensativo e     diz — só mesmo uma professora pra enfrentar essas estradas em cima de uma moto!

A nova passageira retirando o capacete responde — e tem outro jeito?

—Todos respondem em coro, com  um          sonoro... nãaoooo  professora.

 

Agora o nosso Tigrão é um desajeitado dançarino. Desliza naquela pista escorregadia, em dois prá lá, três pra cá , ora sambando, ora em um sofrível arrasta "pé..neus".

 

Outro obstáculo vencido, e já avistamos ao longe o prédio de nossa Escola. 

 

A extensa várzea, que antecede a linha de chegada se transformou em imenso lago, um trecho da estrada está submerso

E agora Sidinei?

Agora, o nosso experiente domador de "Tigrões", conhecedor daquela estrada, de outras tantas Águas, se posiciona  e com um rápido aviso de — fechem as janelas, vai abrindo caminho, esparramando água pra todo lado sob gritos eufóricos das crianças, e dos "adultos" também.

 

Linha de chegada, alguns poucos alunos compareceram pras aulas, mas os nossos professores estão a postos pra mais um dia de trabalho.

 

 A volta pra casa  ninguém sabe como será, vai depender do combinado da Senhora Chuva com o  Senhor Sol.

 

E aqui,  assim como em todo o Brasil , esta peleja dos profissionais da  educação é rotina. Faça chuva, faça sol lá estão eles cuidando de entregar saberes.

 

E dentre todos os saberes das ciências humanas e exatas, os nossos valentes profissionais entregam  um conhecimento que  não é quesito dos "questionários de avaliação" dos órgãos oficiais.

Nossos profissionais da educação, cada um enfrentando as dificuldades inerentes a sua realidade, seja nas grandes metrópoles,seja no Brasil mais profundo  entregam diariamente: Coragem, muita coragem....

E no ranking da persistência, insistência e fé, os nossos educadores são imbatíveis...

 

 

Chegará o dia, em que terão o devido respeito e uma justa remuneração ?.

 

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Gracieluz
Enviado por Gracieluz em 24/02/2024
Reeditado em 05/03/2024
Código do texto: T8006237
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