A Caminhada
Hoje consegui fazer minha caminhada antes da chuva. Na ida foi excelente, pés sem dor, andar um pouco esquisito, não desequilibrado, mas estranho. As passadas algumas firmes, outras nem tanto, pernas estranhas, como se fossem movimentos com delay de alguns segundos entre o comando do cortex e o impulso chegando no destino. Segui em frente como sempre até atingir o limite para poder voltar sem comprometer a fadiga muscular.
Na ida, o percurso de uma avenida até um posto de gasolina alcança 3 km. Fiz sem parar, fiz o checkpoint e fui voltando. As pernas começaram a pesar mais do que o habitual, um calor tremendo, uma umidade do ar alta e algumas nuvens já querendo descarregar suas águas. Bora apertar o passo, mas que nada, apertar o passo se o delay aumentou e cada vez mais os pés doendo e as pernas pesadas e lentas. Esses 3 km de volta parecem que triplicaram, mas a avenida não esticou, ela continua, sinuosa com calçadas com entulhos e pequenos buracos, caminhões e ônibus disputam seus espaços, jogando a fuligem preta que entra nas minhas narinas como enxofre. Esqueci a máscara, talvez com ela teria um filtro do CO2.
Bom, prossegui, sem relógio e não preocupado com o tempo. Percebo que minha rigidez está afetando o desempenho da caminhada, as dores aumentam. Chego próximo da curva, onde tem uma subida íngreme, sigo adiante uns 800 metros, que sufoco. Cheguei ao topo, a dor que não para, bem perto de casa, fico pensando na recompensa do esforço.
Já me arrastando, bem suado pelo calor excessivo, abro o portão e subo rumo ao endpoint. Que beleza, cheguei, são e salvo. Entrei no banheiro, lavei o rosto, as mãos, e fui em busca da recompensa: dois copos de água filtrada. Esquentei o leite, coloquei no copo com café, peguei um pão e fui para a poltrona, curtir a endorfina e a serotonina, esquecendo o sofrimento passageiro e liberando lentamente a satisfação de ter realizado mais uma caminhada.
Agora escrevo essas linhas, pensando qual a próxima tarefa a realizar. Talvez ler um livro, escutar umas músicas, ver uns filmes, ou simplesmente meditar.